Capítulo 35 : 🤝

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A viagem de volta para casa foi rápida e no fim da noite já estavam na capital. No carro que Arthur dirigia enquanto Carla no banco do passageiro lutava contra o sono.

Arthur desviava o olhar para ela assim que podia desviar da estrada e via o rosto corado dela pelo sol e os cabelos com um loiro desalinhado pelas horas de viagem. Como alguém tão pequena poderia ser tão perfeita?

Estacionou o carro no meio fio da casa de Giulia, que cambaleando pelo sono desceu do carro agradecendo pela viagem e entrou em casa empurrando a mala. Pelo retrovisor olhou para Lucas que lhe deu um sorriso e virou para o lado, fechando os olhos novamente.

Carla ignorou o estado que estava sua sala de casa com as malas espalhadas por ela e resolveu subir para o quarto, encontrando no corredor Maria Clara, Lucas e Marcos, este que ficou para dormir já que morava em um lugar afastado e preferiu ir amanhã cedo.

Despediu- se dos três e entrou em seu quarto, perfeitamente arrumado, muito diferente da bagunça que tinha deixado dias atrás antes de partir para Arraial. Os lençóis brancos estavam estendidos sem um vinco e a manta creme foi colocada com zelo em cima destes. O cheiro de limpeza era notável e as cortinas tinham sido lavadas. Se recusava a imaginar como ficaria o quarto quando suas malas subissem amanhã pela manhã da sala.

Deu poucos passos até a porta de vidro que dava acesso à sacada do quarto. Abriu-a se deparando com a noite agradável e a lua cheia. Arraial do cabo era seu paraíso, mas como amava sua casa, seu cantinho. Desde a primeira vez que pisou ali, quando esta ainda estava vazia, sendo vendida, se encantou. O jardim não era tão belo, mas foi umas das principais razões por trocar um olhar significativo para Arthur que logo entendeu que a procura por uma casa maior para abrigar além de Lucas, que treinava seus primeiros passinhos pelo mármore polido da sala e Maria Clara que já era notável pelo ventre pontudo de Carla, estava terminada e seria aquela casa que abrigaria sua família para sempre.

Viajar era ótimo, mas voltar para casa era ainda melhor.

Arthur: Já com saudades da praia? — se pôs atrás de Carla, lhe dando um beijo no pescoço. Ela sorriu e olhou para trás, encostando- se nele.

Carla: Estava com saudades da minha casa. — os dois sorriram novamente.

Ele segurou os cabelos dela, empurrando-os para frente, deixando livre as costas dela que agora exibiam um tom dourado, luminoso, exibindo a marquinha. Carla fechou os olhos ao senti-lo beijar essa região.

Arthur: Você me deve respostas. — ele murmurou perto do ouvido dela.

Ela que olhava para ele, virou para frente, mirando a piscina iluminada por pequenas luzes internas. Sabia do que ele falava. Durante toda a viagem pensou nisto. Era o momento de decidir o que fazer.

Carla: Eu sei... — tentou sorrir, mas o assunto não lhe agradava para sorrir.

Não via mais motivos em dar sorrisos falsos para Arthur, já tinha passado o tempo de esconder dele que era uma total mentira que aprovava e adorava o antigo e o novo trabalho dele.

Carla: Eu só não sei se é o certo.

Carla virou para frente, fazendo com que os braços dele antes presos à sua cintura se soltassem, caindo ao lado do corpo dele. Escorou- se na grade da sacada e ele deu um passo a frente, ficando ainda mais próximo dela. E então os olhos dele chegaram aos seus... Tão lindos. Tão expressivos. Tão cheios de amor. E de apreensão. Era como ver aquele Arthur há anos atrás implorando para que fosse morar na Itália com ele, implorando para que não o deixasse. Fora omissa e não colocaria tudo a perder de novo.

Erros podem ser perdoados, mas repetidos, jamais. E novamente aqueles olhos claros estavam a mirando esperando uma resposta.

Carla: Eu não vou Arthur. E gostaria que escutasse o que tenho a lhe dizer e se pudesse me entendesse. Me ouve Thur. — apressou- se em dizer, pois a cara que Arthur lhe fez denunciava que logo ele começaria a gritar.

Ele olhou para os olhos de Carla e ela pediu calma.

Carla: Não pense que eu estou fazendo isso porque não te apoio no seu novo emprego, eu apoio sim, apesar de não gostar. Você sabe de tudo o que eu penso sobre Fórmula 1, não pelas corridas em geral, mas pelo ambiente em que se vive dentro dos autódromos. Eu aguentei tudo aquilo anos atrás por você Thur e não deu certo, se lembra não? E me recuso a insistir no mesmo erro. Eu não sou a mulher certa para ficar perambulando pelo paddock, sorrindo para todos e aguentando aquelas pessoas desprezíveis. Eu também não quero meus filhos nisso Thur. Não agora. Eles não têm idade para presenciar toda a sujeira que tem por debaixo do dinheiro daqueles patrocinadores e sócios.

Ela o encarou que estava completamente mudo, olhava para ela e não acreditava que ela estava mesmo falando aquilo.

Carla: Meu lugar é aqui no Brasil, Thur. Não quero voltar para a Europa. Eu não fui feliz lá. Nossos filhos foram criados aqui, tem uma vida aqui, não posso tirar isso deles. Nós sempre vamos estar junto de você, assim que pedir para acompanhar você em uma corrida, estaremos lá. Mas não me peça para voltar para a Europa. Isso eu não consigo.

A essa altura Carla já tinha a voz suplicante. O que menos queria era ferir Arthur. Estaria com ele em todos os momentos possíveis, mas não iria morar na Europa. E ele teria que entender isso.

Carla: Nos seus últimos dois anos correndo foi assim, você lá nas corridas, eu aqui no Brasil, quando dava eu ia com você. E foram os melhores dois anos da minha vida. Por que não pode dar certo novamente?

Arthur: Desde o momento que pedi para você decidir se ia ou ficava, eu já sabia da resposta. — o coração dela se apertou ao ver o quanto ele parecia decepcionado. — Estava sendo egoísta de propor que você e as crianças deixassem tudo o que tem aqui e fossem morar em outro continente.

Carla: Não é egoísmo, eu entendo que você queria que nós o acompanhássemos. — ela tentou sorrir e pegou a mão dele que repousava sobre a grade da sacada. Ele a encarou e sorriu. — Você me perdoa?

Como não perdoar com aquele par de olhos castanhos o mirando com tanta intensidade e o sorriso nervoso que denunciava o quanto ela estava perturbada por tudo o que estava dizendo?

Arthur: Claro que sim, meu amor. — seus braços rodearam a cintura dela e ela foi puxada para frente, olhando diretamente para Arthur que sorria. — Isso vai dar certo.

Carla: Você ainda tem dúvidas? — o sorriso entusiasmado fez Arthur também sorrir. — Já deu certo. Você será o melhor chefe de equipe que a Fórmula 1 já teve. — os dois riram e Carla segurou o rosto dele e o beijou.

Se Carla negasse algo para Arthur quando ele ainda era um piloto, as coisas não seriam assim. Os anos trouxeram para Arthur a consciência do quanto era mimado e egoísta. Tirou Carla da casa de sua mãe e a levou para a Itália sem nem ao menos se importar se ela realmente queria, se realmente podia.

Apenas a colocou em um apartamento em Milão, lhe dando um cartão de crédito sem limite para se divertir nas lojas que ela adorava. Não soube identificar que Carla era muito diferente das mulheres que antes conheceu e quando realmente percebeu, ela já não estava mais com ele.

Antes o que lhe importava era apenas ele e suas corridas, hoje nada era mais importante que Carla e seus filhos. Nunca a obrigaria a ir para um lugar que sabia que ela não desejava. Já estava exigindo demais dela ter que aceitar sua volta à Fórmula 1. O que lhe importava agora era a felicidade de Carla, Maria Clara e Lucas. E se eles estavam felizes no Brasil, não ousaria se opor contra isso. 

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Arthur: O Piloto II 🏁Onde histórias criam vida. Descubra agora