Capítulo 101 :

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Logo na quarta-feira, foram para a pista resolver alguns problemas e acertos dos carros e ter reuniões. Júnior estava ocupado dando entrevistas e participando de coletivas, enquanto Arthur estava na base da Ferrari, tendo reuniões com os patrocinadores.

Não se encontraram durante a manhã, nem à tarde. Apenas a noite, quando Arthur estava voltando da última reunião da noite, queria chegar logo no hotel para dormir e ao abrir a porta de seu escritório, encontrou Júnior sentado, debruçado nos braços apoiados na mesa. Ele parecia cochilar e Arthur sorriu, eram poucos os momentos que não via Júnior reclamando ou com um copo de whisky na mão. Já não era de hoje que ele estava estranho, nem ao menos tinha saído na noite de ontem, tinha ficado no hotel e agora estava dormindo na sala sendo que ele já poderia ter ido embora.

Arthur: Júnior? Por que ainda está aqui? — cutucou o ombro dele, fazendo com que ele levantasse a cabeça para o olhar. Ele bocejou e encarou  Arthur.

Júnior: Estava com um pouco de sono, depois da reunião vim para cá. Espero que não se importe de ter entrado no seu escritório.

Arthur: Não, tudo bem. Já estou indo para o hotel. Vai ficar? — perguntou, se aproximando da mesa e guardando alguns papéis na gaveta. Sentiu Júnior com os olhos seguindo ele.

Júnior: Vou ficar mais um pouco... — dito isso, encostou a cabeça novamente nos braços.

Arthur: Você está bem? Está acontecendo alguma coisa? — perguntou, olhando para ele novamente.

Júnior levantou a cabeça e pareceu pensar um pouco antes de responder que estava tudo bem.

Arthur: Você anda muito estranho ultimamente. Sei que não temos a melhor relação do mundo e que eu não sou seu pai para te cobrar explicações, mas trabalhamos juntos e devemos nos dar bem. Há algo que eu possa fazer por você?

Júnior: Está tudo bem comigo Picoli. Estou apenas um pouco cansado.

Arthur: Está confiante para a corrida?

Júnior: Sim. Tudo vai dar certo... — ele apoiou a cabeça nas mãos e continuou olhando para Arthur, este que não sabia mais o que fazer por Júnior.

Arthur: Por que não sai para beber hoje? Encontre uma mulher, sei lá. Faça o que você gosta hoje.

Júnior: Não estou muito a fim hoje. E que tipo de chefe é você que está me mandando sair para beber? — debochou.

Arthur: Pois sei que assim você voltará a ser o Júnior normal, ainda que ele seja irritante e irresponsável, aquele é você. — deu um sorriso e sentou na cadeira ao lado dele. — Se quiser conversar, eu estou aqui para te ouvir. Mas vamos tomar alguma bebida, ok? — perguntou e Júnior deu de ombros.

Arthur levantou e colocou em dois copos, whisky e gelo. Entregou um para Júnior que bebeu um gole e voltou a encostar a cabeça nas mãos.

Arthur: Sabe o que eu acho que você tem?

Júnior: O que, Mister M? — revirou os olhos e Arthur deu um sorriso, apreciando o humor ácido dele.

Arthur: Da última vez que eu não quis sair, não quis saber de transar muito menos beber, aconteceu uma coisa muito estranha.

Júnior: Você algum dia saiu para beber e transar? Uau, achei que tivesse permanecido virgem até o casamento. — debochou novamente e Arthur respirou fundo. — O que? — perguntou com um sorriso no rosto, ao ver o silêncio dele.

Arthur: Eu me apaixonei. — disse com um sorriso no rosto e Júnior ficou quieto, de cara fechada com o copo perto na boca. Olhou para Arthur não acreditando que ele tinha dito aquilo. — Isso acontece, Júnior.

Júnior: E quem disse que eu estou apaixonado? — arqueou uma sobrancelha e Arthur sorriu.

Arthur: Se não é isso, não sei mais o que pode ser.

Júnior: Não é nada sério. Só estou começando a cansar de toda aquela badalação de sempre. Quero ir para o hotel e dormir. Amanhã tudo volta ao normal.

Arthur: Tudo bem Júnior, confio em você. Eu só espero de verdade que você tome juízo e sossegue.

Júnior: Não começa com aquele papo de novo Picoli, minha cabeça está doendo.

Arthur: Ok. Bom, eu estou indo. Fique por mais quanto tempo quiser. — pegou sua pasta e terminou de beber o whisky. Júnior olhava para ele sem dizer nada. — E saiba Cerqueira, que eu não estou aqui apenas para te dar broncas e pedir que você acelere, estou para te ajudar e te aconselhar nos momentos que precisar. Eu quero ser seu amigo Júnior, mas quem não quer ser ajudado é você, quem não quer ter amigos é você. Olhe em volta e veja quem está aqui com você, ninguém não é? Quando você volta das corridas, para quem você vai matar as saudades? Eu sei que seus pais estão na Inglaterra e faz dois anos que você não os visita. Se afastando desse jeito das pessoas, você não chegará a lugar nenhum. E não leve isso como uma bronca, eu estou apenas expondo o meu ponto de vista.

Concluiu, caminhando para a porta. Júnior ficou calado, não falou nem uma sílaba se quer.

Arthur: Mais uma coisa, eu espero de verdade que você não esteja mesmo apaixonado, não pela pessoa que eu tenho em mente. Realmente seria um desprazer ter você como meu cunhado. Já basta te aguentar aqui, não quero você dentro da minha família. Entendido, Júnior?

Com um sorriso ele saiu do escritório e fechou a porta.  Júnior arregalou os olhos e continuou fitando a porta fechada, onde Arthur estava.

Arthur ainda ria pelo paddock se lembrando da cara de Júnior. Mas aquilo era verdade, Thaís e Júnior não tinham nada a ver um com o outro, não que isso impedisse alguma coisa, pois ele e Carla também eram completos opostos. Mas sua irmã sofreria com toda certeza se resolvesse ficar com Júnior, por conta do jeito dele. Thaís poderia ter todos os defeitos do mundo, mas Júnior tinha o dobro deles. Ela namorava com Rafael há anos e ele sabia que seria uma mudança brusca para ela ver como Júnior era. Fora os chifres que levaria. Não queria isso para sua irmã, definitivamente. Dois raios não cairiam duas vezes no mesmo lugar. Ele já tinha mudado para ficar com Carla . Agora ver Júnior mudando para ficar com Thaís, ai já era demais.

Arthur estava chegando ao estacionamento quando ouviu alguém gritando seu nome. Irritado ele virou para ver quem era e viu Geovana correndo em sua direção, com um vestido curto e vermelho, que pelo vento estava mais curto ainda, mostrando as belas pernas da jornalista. Ela segurava sua bolsa e corria em cima de altos saltos. Assim que parou na frente dele, ajeitou o cabelo e deu um imenso sorriso. Ele continuou parado olhando para ela.

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Arthur: O Piloto II 🏁Onde histórias criam vida. Descubra agora