Capítulo 155 :

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Próximo da hora do almoço, Carla resolveu que iria embora, pois passaria na escola para buscar Maria Clara e a levaria para a ONG. Beatriz e ela foram conversando até a sala principal e Carla percebeu a presença de Arthur no sofá, ele a olhou de um modo que ela se arrepiou, ele parecia decepcionado e assim que ela se aproximou, levantou do sofá segurando uns papéis na mão.

Carla: Oi Arthú. — ela tentou parecer normal na frente dele, que não esboçou reação alguma. Continuou olhando para ela, como se estivesse decorando cada parte dela na cabeça dele. O silêncio se fez presente e ela sentiu um vazio em seu peito.

Arthur: Está aqui o que você queria.

Os papéis que ele antes segurava foram parar nas mãos dela que reconheceu o divórcio. Ela folheou as folhas e na última página, viu a assinatura dele. Seus olhos começaram a queimar, pelas lágrimas que insistiam em cair. Ela olhou para ele, tentando entender o que ele tinha feito.

Arthur: Satisfeita agora? — perguntou, rudemente.

Ela não conseguiu responder, continuou olhando para ele e tendo milhares de imagens passando em sua cabeça. Os beijos. O namoro. O casamento. Os momentos em família. Tudo passava muito rápido e de apenas uma coisa ela tinha certeza, ver a assinatura de Arthur naquele papel não era o que queria.

Carla: Arthur... — não conseguia elaborar nenhuma frase concreta, estava confusa demais.

Não esperava que ele fosse assinar daquela maneira, sem conversas, sem gritos, sem nada. Ela não tinha tido coragem de assinar e esperava que ele também não. O amava demais para deixá-lo partir. E saber que agora, nada mais o prendia nela, por causa daquela pequena linha assinada, era devastador.

Arthur: A casa é sua, como pediu. A pensão dos meus filhos vai ser depositada na conta deles e a quantia dos investimentos que nos tínhamos em conjunto será dividida e depositada na sua conta. Concordei com tudo o que você pediu e agora gostaria que você se retirasse dessa casa.

O modo frio e prático com que ele disse aquilo, deixou Carla sem ação nenhuma. Beatriz estava perplexa ao ver Arthur tratando Carla daquela maneira. Ele não era assim e conhecia seu filho muito bem para saber que cada palavra que ele falava, era como se estivessem arrancando uma parte de seu corpo. Carla era mais que um corpo para ele, era parte dele e tirar uma parte dele daquela forma, era torturante.

Carla: Eu preciso conversar com você, Arthur. Não é isso que eu...

Arthur: Não temos mais nada para conversar. — cortou as palavras dela e respirou fundo. — Ouviu o que eu disse? Gostaria que se retirasse dessa casa.

Carla: Eu não posso... — não conseguiu conter o choro entalado em sua garganta e desabou ali mesmo, sentido-se uma idiota por estar daquele jeito na frente dele.

Beatriz se aproximou dela e a abraçou, enquanto Arthur via ela chorar daquela forma. Não havia algo mais doloroso que aquilo.

Arthur: Então eu me retiro. — disse e deu as costas, antes que não conseguisse se controlar e fosse até Carla como um cachorrinho novamente.

Amava ela demais e se o divórcio era o que ela queria, era o que ele faria. Ela mesmo lhe disse que gostava do médico e que estava feliz, não havia porque continuar com ele. Estava magoado demais e ao receber os papéis do divórcio, percebeu que não havia nada a ser feito a não ser assinar. Carla não chegaria naquele ponto se não tivesse certeza do que queria. Embora soubesse que ela se arrependeria por tudo aquilo, quando soubesse da verdade.

Beatriz se aproximou de Carla e fez com que ela sentasse no sofá. O estado que Arthur tinha acabado de deixar Carla, Beatriz nunca tinha presenciado. Gritou para a governanta trazer um copo de água para Carla, enquanto continuou ao lado dela, esperando a hora que ela fosse se acalmar. Sabia que Carla amava seu filho, do mesmo modo que ele também amava ela, mas ambos eram orgulhosos demais para expor os problemas e tentar resolvê-los. Arthur já tinha lhe dito o que havia acontecido com Carla, o que ela havia lhe falado sobre o médico e o quanto aquilo lhe machucou e por mais que ela tentasse explicar que a maioria das mulheres faziam coisas sem pensar, por impulso, o que provavelmente Carla teria feito com os papéis do divórcio, Arthur não conseguia ouvir. O fato de sua mulher estar amando um outro homem pouco menos de dois meses após eles se separarem, o deixava maluco.

Beatriz: Está mais calma?

Fazia mais de meia hora que Carla chorava sem parar, até cair quase desfalecida em suas pernas. Ela ficou ali, quietinha com as lágrimas caindo dos olhos, enquanto Beatriz acariciava os cabelos dela.

Carla: Eu acho que acabei de jogar toda a minha vida fora. — disse com a voz baixa e entrecortada. Beatriz suspirou e balançou a cabeça negativamente.

Beatriz: Sei que nunca foi isso o que você quis, mas deveria saber que o Arthur também não é um poço de paciência. Ele aguentaria tudo, menos ver você amando uma pessoa enquanto ainda é casado com ele.

Carla: Eu não amo o Leandro, não consigo nem ver ele como homem. Eu disse aquilo para evitar mais brigas com o Arthur. — respirou fundo e olhou para Beatriz, ela parecia realmente chateada com aquela situação. — Você acha que eu levei essa história muito longe e fui muito séria?

Beatriz: Na verdade, eu acho. Entendo completamente o seu lado, de se sentir oprimida por ele, dele não ter estado com você nos piores momentos de sua vida e ainda ter que ver ele com a Geovana. E essa parte da jornalista, foi o estopim para tudo isso. Não é? — viu ela apenas balançando a cabeça. — Acho que nessa parte, você levou tudo a sério demais. Aquela mulher não presta e durante toda uma vida meu filho foi fiel a você. Deveria ter pensando o que pesa mais na relação, ao invés de fazer a mesma coisa que fez a ele.

Carla: Está dizendo que eu deveria ter perdoado o Arthur por ele ter me traído e continuar vivendo minha vida como sempre?

Beatriz: Carla, você não deve saber disso, aliás quase ninguém sabe, mas há uns quinze anos atrás, na mesma época que você e o Arthur começaram a namorar, eu descobri que o Zé me traia.

Ao ouvir aquilo, Carla arregalou os olhos. Como? José e Beatriz eram um dos casais mais sólidos que ela já tinha conhecido e naquela época, pareciam assim.

Beatriz: Era uma diretora da empresa dele, vinte anos mais nova que eu, linda e perfeita. Quando eu descobri, achei que meu mundo ia cair. Porque afinal, eu escolhi viver a vida dele ao invés da minha, o amei como nunca amei ninguém e aquele ingrato me retribui daquela forma. Foi a pior crise que já tivemos, mas em uma das brigas, nós olhamos pela janela e vimos na piscina o Arthur e a Thaís nadando, rindo e se divertindo. Porque eu terminaria com a minha família sendo que meu marido estava jurando que era apenas um caso de menos de um mês? Entende o que eu estou falando?

Carla: Entendo. — disse, ainda completamente chocada. — Mas eu não teria esse sangue frio.

Beatriz: O Zé me disse que tinha me traído. Mas o seu caso, é completamente diferente, teve o marido perfeito todos esses anos e está desconfiando dele por uma coisa que ele jura que não aconteceu, enquanto a mídia coloca mais lenha. Acreditou em jornalistas, enquanto quem viveu todos esses anos com você, nem ouvido foi. Se eu, que fui realmente traída consegui superar isso e seguir em frente, por que você não conseguiria?

Beatriz olhou para Carla e ela ficou em silêncio, assim que saiu do transe, pegou sua bolsa , os papéis do divórcio e olhou mais uma vez para Beatriz.

Carla: Obrigada por tudo. — disse e logo saiu da casa, ao entrar dentro do carro, desabou novamente.

Teoricamente, sabia que Beatriz estava certa, era uma hipótese de traição que tinha acabado de uma vez por todas com seu casamento e o que ela deveria fazer era acreditar em Arthur. Mas era idiota o bastante para não conseguir. E o pior era saber que ela tinha feito o mesmo que ele poderia ter feito, estava se relacionando com um homem enquanto ainda era casada, apenas para afetar o ego de Arthur. No caminho para casa, pensou no que faria de sua vida sem Arthur. Como seria ver ele seguindo a vida dele, encontrando uma outra mulher e construindo uma nova família com ela. Isso, com toda certeza, foi a maior dor que sentiu.

Quando chegou em casa, deixou o carro de qualquer jeito na garagem e correu para dentro, logo na sala trombou com Lucas, que a olhou sem entender nada. Quando subiu a escada, encontrou Joana. Não conseguia conversar com ninguém e ao subir chorando e bater a porta do quarto, deixou todos ali sem saber o que fazer. Nem mesmo quando Maria Clara chegou da escola, Carla abriu a porta ou falou com alguém. Joana passou horas oferecendo comida e pedindo para que ela abrisse a porta, mas não havia nada que fizesse Carla responder. O quarto estava silencioso e aquilo era preocupante. Ela continuou trancada no quarto pelo resto do dia, silenciosa e fazendo os três quase enlouquecerem com aquela ação.

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Arthur: O Piloto II 🏁Onde histórias criam vida. Descubra agora