Capítulo 117 :

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No sábado, lá estavam Thaís e Rafael como atração principal do noivado preparado por Beatriz. Era algo grandioso, muito bem decorado no jardim da casa de seus pais. Duzentos convidados olhando a vergonha de Thaís.

Carla via de longe, nos olhos dela, a tristeza. Arthur também via, mas ainda esperava que a irmã visse a bobagem que estava fazendo. Ela falava com todos, mostrava sua aliança, mas não esboçava um sorriso sincero. E então Rafael pediu a mão dela para Beatriz e José e os dois quase morreram achando que aquilo era o melhor dia da vida de Thaís. Após todos os brindes, todas as fotos. Ela se afastou um pouco e sentou perto do orquidário de Beatriz e pegou seu celular.

"O Júnior está aqui, Thaís. Obrigada, pois eu sei que boa parte disso é por você. Não sei o que vocês são, mas quando falei de você para ele, meu irmão ficou com os olhos brilhando, mas logo me mandou calar a boca. Gostaria muito de te conhecer. E novamente obrigada."

E junto da mensagem, veio uma foto de Júnior com ela, provavelmente tirada hoje. Ele estava diferente, o sorriso um pouco mais sincero, abraçava a garota com cabelos incrivelmente lisos com os olhos verdes e um lindo sorriso. E aquilo encheu seu coração momentaneamente de alegria. Queria vê-lo bem, queria que ele fosse muito feliz com a família dele. Queria tudo de bom para ele. Mas surpreendentemente, quis estar no meio daquela foto, quis estar naquela cidade pequena que coincidentemente era a mesma cidade que seus pais vieram "Conduru", quis estar ao lado dele, ao invés de estar nesta porcaria de festa de noivado. Aquele não era seu lugar.

Arthur: Eu já não disse que ninguém faz minha irmã chorar? — a voz assustou Thaís e ela viu Arthur sentado ao lado dela, olhando para o celular que mostrava a foto de Júnior. — Nova namorada dele? — perguntou, apontando para o celular.

Thaís: Não a irmã. Ela acabou de me mandar. — deu um sorrisinho e limpou as lágrimas.

Arthur: Uma vez eu li, que se a gente se apaixona por duas pessoas, devemos ficar com a segunda, porque se amássemos a primeira não teríamos dúvidas quanto a outra.

Thaís: Parece mais fácil na teoria do que na prática.

Arthur: Eu estava muito enganado quando briguei com você lá no Bahrein. Eu não tinha dimensão do quanto você está confusa, do quanto está fugindo da sua própria vida. Ele te faz viver, não é? — viu sua irmã dando um pequeno sorriso, enquanto chorava.

Thaís: Como eu nunca vivi em toda minha vida. Ele me faz viver cada momento como se fosse o último e eu gosto disso. — suspirou. — Mas eu não posso, você entende. — revirou os olhos e Arthur a abraçou.

Arthur: Você não está feliz, Thaís. Não é isso que você quer. — ele pegou a mão dela e tocou no belíssimo anel que ela carregava.

Thaís: Eu nunca desejei tanto estar com o Júnior como agora. Ele me irrita, me tira do sério, me faz fazer coisas que eu nunca faria, mas ele me protege. E era isso que eu precisava agora. Mas ele não está aqui, ele nunca mais vai estar aqui.

Arthur: Você sabe porque isso aconteceu, foi a sua escolha.

Thaís: Não era o que eu queria, era o que eu tinha que fazer, Thur. — ela se encostou no irmão, limpando mais uma vez as lágrimas. — Ele pergunta de mim?

Arthur: A última vez que vi ele falando de você, foi no Bahrein. Quando ele bebeu tanto, mas tanto, que tive que carregar ele pro quarto. Ele dormiu chorando e chamando você. Depois disso, foi como se outro Júnior tivesse nascido. Ele não pergunta, não toca no assunto, é como se nunca tivesse acontecido nada. É uma ótima técnica de auto defesa. — deu de ombros, fazendo a irmã chorar ainda mais.

Thaís: Eu não devia ter feito aquilo.

Arthur: Ele acreditou que você daria alguma chance para ele, mesmo que ele falasse que não queria nada sério. E você aceita se casar na frente dele, sendo que dias atrás estavam juntos. Foi um pouco cruel. — suspirou e abraçou ela mais forte. — Mas isso já passou Thaís.

Thaís: Eu gostaria tanto de estar feliz, Thur.

Arthur: Não espere por uma coisa que nunca virá. Se você não está feliz no dia que era para ser um dos mais felizes da sua vida, não será mais para frente que vai ficar. Casamento é coisa séria, Thaís. Não faça isso com você mesma, minha irmã.

Thaís: Eu não posso fazer isso com o Rafael, Thur... Não mesmo!

Arthur: Faça uma lista dos dias mais felizes de sua vida. Veja quem está em primeiro lugar com você e vá atrás dessa pessoa. Porque é ela que te faz feliz. — deu um beijo na testa dela e levantou. — Agora vou te deixar sozinha, pensa Thaís, pensa.

Ela pensou por vários minutos. Havia vários dias felizes. Sua primeira viagem sozinha, para o Canadá. O casamento de Carla e Arthur. Sua primeira corrida na Fórmula Indy. O nascimento de Lucas e Maria Clara. Mas o primeiro, aquele que ela viu que ela realmente foi feliz, foram os dias que passou com Júnior na Califórnia. Ela tinha rido, tinha feito coisas que nunca fez, tinha estado com ele, tinha se sentindo pela primeira vez uma mulher atraente aos olhos de alguém. Havia alguma coisa errada ali e logo as palavras de Arthur vieram em sua cabeça novamente. Ela tinha que ir atrás de Júnior, porque ele foi o primeiro de sua lista. Novamente olhou para a foto em seu celular e sorriu.

Caçou em sua agenda o número dele e logo achou. O coração acelerou ao ouvir o som da linha chamando. Deu alguns toques e logo a voz que ela mais queria ouvir naquele momento soou. Ele sabia que era ela, após seu "Alô" ficar em silêncio. Ela não sabia o que fazer. O que devia falar.

Thaís: Oi... — ela disse baixo, com as lágrimas rolando o rosto. — Eu liguei... Bom, eu sei que não deveria te ligar. Me desculpa.

Júnior: Ainda bem que sabe. — a voz seca e grossa, a fez apertar os olhos com mais força.

Thaís: Não fala assim, Erivelto. Eu só liguei para dizer que o que eu mais queria agora, era ter você aqui. E eu achei que você deveria saber.

Júnior: No seu noivado? Para colocar mais chifres no seu agora noivo? — ironizou.

Thaís: Não... Eu queria você aqui, mas só você e eu. E gostaria também de dizer que os meus melhores dias, foram ao seu lado. Então, muito obrigada por isso.

Júnior: Pois saiba que eles nunca mais se repetirão, Thaís. Por sua culpa. — ele ouviu o soluço dela do outro lado da linha e engoliu em seco, tentando se manter calmo. — Você está chorando?

Thaís: Não, não estou. — ela soluçou mais uma vez. — Foda-se, eu estou sim. Eu só queria que você soubesse que eu gostaria de estar com você, Erivelto. Eu queria estar longe dessa festa, eu queria você aqui para me fazer rir. E me desculpa por te ligar, foi o que o Arthur mandou que eu fizesse.

Júnior: Então Thaís, por favor, não ouça mais seu irmão. Eu não quero mais falar com você, não quero mais te ver e desejo que você quebre sua perna no dia do casamento. Eu sou Júnior Cerqueira, tenho todas correndo atrás de mim, não preciso de uma louca que não sabe o que quer da vida, mas se um dia você decidir o que quer, pode me procurar. Agora tenha uma boa noite e volte para a sua falsa vida, imbecil. — desligou na cara dela.

Thaís deixou o celular cair na grama, se debruçando em seus joelhos e começando a chorar ainda mais alto. Só saiu dali, quando Carla a achou. Desesperada com o estado dela, a levou para o antigo quarto dela e a colocou deitada. Quando foi perguntada onde Thaís estava, disse que ela estava passando mal e por isso foi dormir. Não demorou muito para que toda a festa de noivado acabasse.

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Arthur: O Piloto II 🏁Onde histórias criam vida. Descubra agora