Capítulo 72 :

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A proximidade da corrida fazia da rotina de Arthur um caos, reuniões, treinos, compromissos com patrocinadores e a montagem do carro fazia com que não tivesse tempo para mais nada. Era por isso, que exatamente a uma da manhã de domingo, horas antes da corrida, onde um dia antes, no sábado, Júnior tinha feito a pole position, ele ainda continuava no circuito, trancado em uma sala de reuniões com diversos papéis informativos do carro. A rotação do motor caia em uma certa curva e ninguém sabia de verdade onde era o problema, quando todo o carro estava certo. Nem ele sabia mais o que fazer.

Uma pontada em sua cabeça fez o lembrar que estava há dois dias sem dormir e acabaria tendo um colapso desse jeito, exatamente no momento em que pegou seu celular para ligar para sua esposa, bateram na porta da sala e segundo depois, viu a silhueta de Geovana parada em frente da sala. Ela sorria e segurava uma sacola de papel pardo nas mãos.

Geovana: Fiquei sabendo que estava trancado aqui há quase três horas e vim lhe fazer companhia. Atrapalho? — ainda sorrindo, ela perguntou.

Arthur não disse nada, continuou olhando para o rosto de Geovana. Ela era realmente linda e com passos rápidos, se colocou perto dele, colocando em cima da mesa a sacola que carregava.

Geovana: Trouxe um vinho para você.

Arthur: Obrigado Geovana, mas não precisava se incomodar, eu estou bem.

Geovana: Não é incomodo, estou aqui no circuito e não sei que horas vou embora, apenas vim atrás de companhia. — ela riu e retirou da sacola a garrafa de vinho. — Mas se quiser eu vou embora, não quero te atrapalhar.

Arthur: Não, está tudo bem. Eu estava desistindo de tentar solucionar o problema do carro, estou cansado. Vai ser ótima uma taça de vinho.

Arthur levantou da cadeira e foi ao fundo da sala, onde em cima de um móvel havia um bar e dentro dele, retirou duas taças. De volta à mesa, sentou ao lado de Geovana que mantinha os olhos nos papéis espalhados pela mesa.

Geovana: Problemas com o carro?

Arthur: A Rotação está caindo na curva quatro. E ninguém sabe o que está acontecendo, nem eu.

Geovana: Posso ver? — olhou para ele que assentiu e então ela pegou os papéis, fixando seus olhos em todos aqueles gráficos.

Arthur: Vai dizer que entende o que está dizendo nos papéis? — debochou.

Geovana: Eu trabalho com isso Arthur, logo eu tenho que saber. — revirou os olhos e pegou sua taça de vinho, enquanto folheava os papéis. Arthur deu um sorriso e continuou olhando para Geovana.

Arthur: Você é muito diferente de todas as mulheres com quem eu convivo. Exceto minha irmã que é piloto, então também sabe dessas coisas.

Geovana: Sua mulher não gosta de corridas, não é? — perguntou.

Ela deixou os papéis de lado e cruzou as pernas, virando de frente para Arthur. Pode ver nos olhos dele a hesitação de falar algo de Carla na frente dela. Era óbvio que a mulher dele deveria ter feito mil e umas ameaças a ele.

Arthur: Não. Não gosta.

Geovana: Então porque ainda está casado com ela? Penso que temos que apoiar a pessoa que amamos em tudo. Bom, seria isso que eu faria se fosse casada com alguém.

Arthur: Porque eu a amo. — disse, automaticamente.

Arthur podia sentir a malícia com que Geovana dizia aquelas coisas, por um momento pode ver que Carla estava certa quanto temer a relação dele e de Geovana, ou então seria coisa de sua cabeça?

Arthur: Eu a conheci em uma corrida, sempre soube que ela não gostava de corridas, mas deve ser por isso que eu a amo tanto. Ela é diferente de mim, não pensa igual, se quisesse me casar com alguém que gostasse das mesmas coisas que eu gosto, casaria com o Boninho ou com meu pai. Seria mais prático. — sorriu e olhou para Geovana, o sorriso dela tinha desaparecido do rosto e a taça se mantinha inerte em suas mãos.

Geovana: Bom... É o que penso. — suspirou e sorveu mais um gole do vinho. — Estava lendo algumas coisas sobre seu filho, ele tem muito talento e se parece tanto com você.

Arthur: Lucas é talentoso e esforçado, sei que um dia ele será melhor do que eu fui.

Geovana: E sua filha? Ela não gosta também de corridas?

Arthur: Não. A Maria Clara puxou a Carla, ela até acompanha as corridas do irmão, mas não leva jeito. — com um sorriso ele se lembrou dos filhos, sentindo as saudades comprimindo seu peito. Estava perdendo várias coisas da vida deles e sabia que dali a alguns anos se arrependeria disso.

Geovana: Eles devem te amar muito.

Arthur: E eu amo eles com todas minhas forças, também. São minha vida. — completou com um sorriso e Geovana assentiu. — Tenho que ir agora, Geovana. Preciso dormir e amanhã logo cedo já tenho que voltar para cá.

Geovana: Me dá uma carona? — levantou da cadeira e olhou para ele, que parecia pensar.

Ela sabia muito bem que havia diversos fotógrafos lá embaixo, mas não se importava com as fotos que sairiam muito menos com os ataques que a mulher dele daria.

Arthur: Tudo bem. Você viu se tem fotógrafos lá fora?

Geovana: Não tem mais ninguém lá embaixo. — pegou sua bolsa e saiu da sala ao lado de Arthur.

Realmente poucas pessoas estavam ainda ali, no motorhome da Ferrari só estavam dois homens já indo embora também. Mas para a surpresa de Arthur assim que pisou no estacionamento, uma série de flashes começou a iluminar o local. Geovana gritou e tentou se esconder atrás de Arthur, este que passou a caminhar mais rápido trombando em um fotógrafo, este ainda insistiu em tirar mais fotos e foi empurrando, caindo no asfalto. Quando alcançou o carro, não se preocupou em ver se Geovana tinha ou não entrado junto com ele, apenas a imagem de Carla lendo mais revistas lhe vinha na cabeça. Ela ficaria louca. E com razão. Ligou o carro e quando já estava avançando, viu Geovana batendo na janela. Relutante, ele abriu a porta e ela adentrou.

Geovana: Oh meu Deus. — disse arfante e Arthur arrancou com o carro. — De onde eles saíram? Eu estou tremendo.

Arthur: Geovana... A partir de hoje eu não quero que me vejam junto de você. Não é nada contra você, mas é pelo bem do meu casamento.

Geovana: Arthur eu não...

Arthur: Eu amo minha esposa Geovana, não quero mais brigar com ela por sua causa e de fotos ridículos quando nós dois sabemos que não temos nada e nunca teremos.

Arthur não estava se importando se magoaria ou não Geovana, só queria atingir seu objetivo que era fazer ela se afastar dele. Geovana se calou por bons segundos ficando com os olhos grudados no vidro do carro.

Arthur: Me desculpe se fui grosseiro, mas quero que seja assim Geovana.

Geovana: Tudo bem. Você sabe o que faz.

Mais nenhuma palavra foi dita por Geovana até chegar por fim no hotel e agradeceu a carona. Arthur ficou por um bom tempo dentro do carro, pensando no que tinha falado para Geovana, mas antes ela magoada do que a Carla.

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Arthur: O Piloto II 🏁Onde histórias criam vida. Descubra agora