Capítulo 123 :

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Xxx: Carla, espere! — ao virar para trás, se deparou com Beatriz caminhando apressadamente até ela. Parou, prevendo já a briga que teria com aquela cobra vestida de Prada. — Eu ouvi o que Lucas lhe disse.

Carla: Por favor, Beatriz, eu não quero brigar, eu não preciso ouvir suas palavras ácidas. Não agora. — as lágrimas continuavam a cair pelo rosto dela e Beatriz sorriu e tocou o rosto dela, enxugando uma fina linha molhada ali.

Beatriz: Não, eu não vou falar nada que te machuque ainda mais. Você está machucada demais, já ouviu coisas demais. Não precisa de mais nada, apenas de uma coisa. Uma companhia e eu estou me colocando a sua disposição.

Carla: Você o que? — franziu a testa, confusa com aquelas palavras da sogra.

Beatriz: Eu quero conversar com você, quero ouvir o que você tem a dizer, quero te ajudar. Não estou achando justo isso que estão fazendo com você. Você pode me acompanhar?

Carla: Isso é brincadeira?

Beatriz: Sou Beatriz Picoli, não fico disponível para brincadeiras. — deu os ombros e saiu caminhando na frente de Carla, para o estacionamento.

Ela já estava no inferno mesmo, que então abraçasse o diabo. Saiu atrás de Beatriz e entrou no carro dela. Foram em silêncio até a mansão Picoli, o carro foi deixado na garagem e elas subiram para o terceiro andar da casa, onde em um dos vários corredores, Beatriz abriu a porta do quarto que Carla logo reconheceu ser de Arthur, quando ainda era solteiro.

As duas entraram e Carla sorriu ao ver o quarto decorado com troféus. Símbolos da Ferrari e muitas fotos. Fotos de viagens. Fotos de corridas. Dele com Thaís. Tinha até uma de Sophia perdida entre o mural. Carla devia ter entrado naquele quarto umas duas vezes e ainda rapidamente. Nunca tinha prestado atenção nele.

Carla: O que está fazendo Bia?

Beatriz: Posso te contar uma história? — ela assentiu e Beatriz sentou em uma poltrona e Carla sentou na cama, olhando para ela. — Há uns quarenta e cinco anos atrás, eu era uma garota que tinha acabado de chegar de uma cidade do interior do Espírito Santo. Papai precisava de dinheiro e mamãe como tinha uma família por aqui, decidiram se mudar para o Rio de Janeiro. Eu era jovenzinha, não sabia muita coisa da vida, mas eu passei a entender um pouco mais da vida, quando um cara me atropelou com uma moto. Era o José, sempre correndo por tudo. E ali, eu soube que as coisas dariam certo.

Um sorriso apareceu no rosto de Carla pela primeira vez ali. Ela nunca soube da história de Beatriz. Ela nunca tinha falado coisas importantes para ela como agora.

Beatriz: Ele tinha sonhos tão, mas tão grandes que eu ficava até um pouco perdida. Ele corria em uma categoria daqui mesmo, mas sempre dizia que o grande sonho dele era ir para a Europa se aventurar na Fórmula 1. Mas eu também tinha sonhos, desde meus cinco anos de idade era bailarina. E quando cheguei no Rio de Janeiro, as coisas começaram a melhorar. No mesmo mês que o José foi convidado a correr na Fórmula 1, eu fui convidada para fazer parte de uma companhia de ballet muito famosa.

Carla: Você nunca me disse nada disso... — ela estava chocada com aquilo e viu Beatriz sorrir e se acomodar na poltrona.

Beatriz: Você nunca deixou que alguém se aproximasse de você, Carla. — deu de ombros e suspirou.

Carla: E o que você fez sobre José?

Beatriz: Bom... Nós conversamos muito e achamos que poderíamos conciliar as duas carreiras. Então nos casamos e nos mudados para a Suíça. No começo, estava tudo bem, mas as coisas começaram a desandar. Não tínhamos dinheiro, o Zé ganhava pouco na equipe que estava correndo e nunca chegava em posições boas. Ele que tinha que pagar as viagens deles pelos países e eu também tinha que me dedicar a companhia e tinha que ir a alguns países com meu próprio dinheiro. E isso, nos fez ficar cada vez mais pobres. Você nunca vai saber o que é chegar em casa e abrir a geladeira e para o jantar ter pães e água. Todo nosso dinheiro evaporava e nos passamos a pior fase da nossa vida. E quando achávamos que nada poderia piorar, eis que eu me descubro grávida.

Arthur: O Piloto II 🏁Onde histórias criam vida. Descubra agora