Capítulo 1

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Emilia

    Eu estava ficando louca, só podia.

    Estava a vinte minutos olhando para o calendário na porta da geladeira pensando por que diabos havia feito aquela pequena marcação. Passei meus dedos sob o papel torcendo para que fosse uma sujeira, mas não era. Eu realmente havia marcado algo para o dia de hoje, o problema era... eu não fazia ideia do por que e sobre o que era.

    E não saber estava me matando.

    Ultimamente não lembrar de qualquer coisa me fazia suar frio. Eu precisava estar atenta a tudo, principalmente quando se tratava de Matthew, afinal o homem com quem vivia nos últimos anos não era mais o cara que me apaixonei perdidamente. Esse Matthew não era amoroso, não tinha seus olhos brilhando quando me via e aquele sorriso maravilhoso que parecia ilumina-lo, ele não se sentava mais comigo aconchegado no sofá vendo um filme, conversando ou apenas desfrutando da companhia um do outro. Não, esse Matthew era cruel com as palavras, seco e bruto nas ações, nem um pouco amoroso como meu Matthew era. E o que me matava por dentro era não entender como ele havia mudado tanto em tão pouco tempo.

    Com um bufo frustrado, passo as mãos pelo rosto e olho em direção ao relógio, faltava duas horas para Matthew voltar do trabalho, merda!

Me viro e sigo em direção aos quartos, a angústia se esvaindo rapidamente e um enorme sorriso tomando meu rosto assim que passo pela entrada do quarto da minha filhotinha.
    — Bom dia preguicinha! — me sento ao seu lado na cama enchendo-a de beijos. Sua risada logo toma conta de todo o quarto inundando meu coração de felicidade.

    — Para mamãe! — Emma ri alto — Para! Para! Eu vou fazer xixiiiii! — Me afasto dela na hora não querendo correr esse risco. 

    — Banheiro, agora! Corre! Corre! — Ela sai da cama ainda rindo, correndo com suas pequenas perninhas em direção ao banheiro. Paro por um minuto ouvindo a tampa do seu pequeno vasinho sendo aberta e sorrio me virando para sua cama e começando a ajeitar tudo.

    — Tudo certinho ai filha?

    — Sim! — ela diz feliz — Posso lavar minhas mãozinhas sozinha? — grita do banheiro.

    — Pode, mas sem bagunça querida, Papai vai chegar daqui a pouco então... — Não preciso completar a frase, ela sabe muito bem que nos dias que seu pai chega mais cedo nossas brincadeiras devem ser o menos bagunçadas possível

    — Ok mamãe. — sua vozinha desanimada me atinge e a raiva começa a crescer dentro de mim. Maldito Matthew! Destruía meu coração cada vez que ele ignorava nossa filha, vivendo sua vida como se nossa preciosa Emma nem existisse. Tive de fechar os olhos por um momento e engolir todo a raiva e magoa que sentia, precisava me acalmar e seguir com o plano, só assim conseguiria sair daqui e principalmente... ficar bem longe daquele homem.

    Desde que fiquei grávida e Matthew se tornou pior do que já estava sendo eu sabia que não íamos durar muito mais tempo. Tentei por todo primeiro ano de vida de Emma tentar fazer com que as coisas voltassem ao normal, mas as coisas só pioraram, ainda mais com o resguardo e a minha vontade zero de fazer sexo meses depois de seu nascimento.

    Confesso que vendo a atitude de merda de Matthew eu achei que foi uma ótima forma de justiça divina, até rezei para que seu pinto caísse seco e duro ou até mesmo que arrumasse uma outra mulher, assim ficaria livre daquele traste, mas... não foi dessa vez.

    Desde aquele momento eu comecei a juntar dinheiro, foi extremamente difícil afinal eu não trabalhava e não tinha como arrumar um emprego com Emma ainda tão pequena. Matthew se recusava a ajudar com qualquer coisa para nossa filha, então contratar uma baba para que eu pudesse trabalhar era impossível. Sem ter outra opção tive de me desdobrar com o que tinha. Matthew me dava uma quantidade de dinheiro por semana para as despesas e comida, esse dinheiro era o mesmo desde que começamos a morar juntos e a idiota aqui ouviu todo o seu papo furado e aceitou largar o emprego e "focar somente nos estudos". Idiota! 

    Eu precisava dar um jeito então aos poucos fui mudando umas coisinhas aqui e ali nas compras do mercado, juntando cupons de descontos que achava na internet e fazendo pequenos bicos de babá em casa tomando conta dos filhos das vizinha sempre que podia, até passear com cachorros, gatos e um porquinho eu fazia. O dinheiro não era muito, mas de grão em grão a galinha enche o papo certo?

    Certo, eu só não esperava que todos os gastos de Emma recaíssem em meus ombros. Nem com as malditas fraldas Matthew ajudava. Eu morria por dentro a cada vez que tinha de comprar a frauda mais vagabunda possível, por que naquele mês não consegui fazer o dinheiro render e comprar a frauda escondida com o dinheiro do Matthew, ou havia conseguido achar um maldito cupom de descontos que me ajudasse a comprar uma fralda melhor. Era de partir o coração ver Emma assada ou acordando incomodada com uma fralda que mal absorvia suas necessidades a noite.

    Mas isso logo logo isso iria acabar. 

    Tinha de acabar! Isso não era vida.

    Emma não merecia isso. Eu não merecia isso!

    Com o dinheiro entrando aos pouquinhos, surgiu um novo problema, onde diabos guardaria aquilo, visto que abrir uma conta em um banco sem que Matthew soubesse era impossível. Eu sabia que às vezes ele desconfiava de como eu cuidava de Emma, como conseguia o dinheiro das fraldas, brinquedos e roupinhas que ela sempre perdia rapidamente e com certeza pedia ajuda de seus amigos para tentar descobrir o que eu andava fazendo.

    O bastardo era um idiota, mas tinha amigos muito fieis em varias partes aqui em Nova York, desde seu amigo bancário, até um medico, juiz e policial. Esse último em particular era dono de boa parte de todo o meu ódio.

    Quando Matthew me bateu pela primeira vez eu não pensei duas vezes, olhei seu rosto irritado e assustado pelo que havia feito, peguei minha bolsa e sai correndo com a cabeça erguida até a delegacia mais próxima. Assim que a atendente viu a marca da mão de Matthew em meu rosto e o lábio sangrando, partido do golpe eu não precisei dizer nada. Ela chamou uma policial, que me levou para uma sala, me deu um copo de água, um remédio para dor e me pediu que esperasse, que ela só iria buscar o equipamento para tirar algumas fotos e começar todo o processo da denúncia. As coisas não foram muito longe depois disso, pois minutos depois Kleber o amigo de Matthew me viu pela janela da sala e entrou, olhando para mim com falsa preocupação e perguntando que diabos havia acontecido.

    Contei tudo, desde nossa discussão até Matthew perdendo a cabeça e me batendo, achei que Kleber se compadeceria, mas para meu horror ele olhou para a policial que voltava com o equipamento e a dispensou. As palavras que vieram a seguir me fazem estremecer de ódio só de lembrar. O desgraçado teve a audácia de me dizer que era uma briguinha a toa, que todo mundo se exalta e que eu conhecia Matthew bem demais para saber que aquilo havia sido uma pequena confusão. Sem me deixar sequer falar novamente, ele me segurou fortemente pelo braço, me arrastou até sua viatura e me levou para casa, me entregando nas mãos do meu agressor.

    Os dois conversaram, rindo da situação como se não fosse nada e ainda ousando me culpar pelo ato. Eu nunca perdoaria Kleber por isso. Quando Matthew o trazia em casa eu ignorava sua existência e o babaca percebendo brincava comigo dizendo que "Nunca viu algo tão pequeno guardar tanto rancor". Idiota!

    Mas que seja, sem poder ter uma conta eu tinha de correr o risco de guardar o dinheiro em casa e o único lugar que Matthew não ousava entrar era o quarto de nossa filha. Eu havia deixado pequenos montinhos de dinheiro por vários lugares, rezando para que se um dia ele viesse a encontrar algum deles, eu perderia apenas um pouco do dinheiro e não tudo, mas rezava que esse dia nunca chegasse, pois não queria imaginar sua reação.

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continua... 

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