Capítulo 5

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Emilia

Tomar banho foi um grande desafio, quando me mexia as costelas pareciam me esfaquear e respirar se tornava tão difícil que eu me via quase desmaiando.
 Eu estava uma merda, morrendo de dor e com fome, mas principalmente eu estava com raiva.

Raiva de não ter saído daquele inferno antes.
Raiva de ter deixado que Matthew machucasse minha filha.
Raiva de te-lo-deixado me machucar... de novo
Raiva de... tudo.

Minhas mãos coçavam querendo fazer algo, precisando fazer algo e quando fechava meus olhos tentando acalmar toda a inquietação dentro de mim era ele quem eu via. Bem ali na minha frente, batendo em meu bebê de novo, de novo e de novo. Um looping do pior momento da minha vida.

Eu queria... queria tanto... poder envolver minhas mãos naquele maldito pescoço e apertar, apertar tão forte que seria possível ver a vida se esvair de seus olhos, mas mais do que isso eu ansiava pelo momento em que percebesse que a mulher que ele tanto considerou fraca e submissa fosse aquela que agora detinha sua vida nas mãos.
Nossa! Como eu queria ver o exato momento em que a confusão seria substituída pela dor da traição, pela vergonha da incapacidade e principalmente pelo medo.

Eu queria tanto, tanto isso que minhas mãos tremiam.
Mas... eu conseguiria?
E se eu conseguisse... o que isso faria de mim?

Eu sabia a resposta dessas perguntas antes mesmo de se quer me questionar. Eu não conseguiria, por mais que quisesse, que precisasse, essa não era eu. Se eu me sujeitasse a isso eu estaria me tornando um monstro, um monstro como ele.

Eu estava tão esgotada física e mentalmente que nem sequer tive a chance de me controlar quando o choro irrompeu do meu peito. Ele veio rápido, forte e esmagador. Chorei de raiva, de medo, de tristeza, de dor, por mim, por minha filha e pelo que seria do nosso futuro. Chorei por tudo e por nada até que não restasse mais nada.

Quando eu me senti completamente vazia, me enxaguei, me sequei e me permitir pela primeira vez me olhar no espelho. Repetindo mais uma vez para mim mesma que hoje, somente hoje, eu me permitiria sentir toda essa dor, toda essa raiva, mas amanha, assim que acordasse Matthew nunca mais teria espaço na minha vida, nem na porra dos meus pensamentos.

Enquanto me olhava no espelho percebi pela primeira vez o quão forte era. Como eu pude me enganar tanto achando que era fraca? Como eu pude pensar isso de mim mesma depois de tudo que passei?
Meu reflexo no espelho não me deixava ter duvidas do quão malditamente forte eu era. Meu corpo parecia uma pintura abstrata de contusões. Além do rosto não havia um local que não houvesse marcas da fúria de Matthew.

Se eu realmente fosse a fraca que pensei ser, teria ficado ali imóvel recebendo golpe após golpe, sem me mexer, sem me impor, apenas esperando que ele derramasse tudo sobre mim e enfim se acalmasse. Eu não fiz isso! Eu reagi! Mesmo que para isso eu tenha precisado que ele fosse para cima da minha garotinha.
Quando Matthew se dirigiu para Emma, algo em mim finalmente se libertou. Eu sofri em suas mãos, achei que morreria com a dor de cada golpe, mas lutei assim que vi a oportunidade. Ataquei quando ele congelou por apenas alguns instantes em surpresa e não descansei até que ele estivesse caído no chão, por que aquela era a minha maldita oportunidade de sair dali, de libertar eu e minha filha de toda aquele inferno.

Eu podia parecer valente na hora, mas eu estava me borrando de medo. Uma vozinha em minha mente gritava "Pare com isso! Ele é mais forte que você! E se ele acordar antes mesmo que você consiga fugir? O que vai acontecer com você? Com Emma?" 
 Cada maldita pergunta em minha mente aumentava mais e mais o meu medo, mas ela também me mostrava que se eu tinha medo é por que eu tinha pelo que lutar, tinha algo a perder e a gente só tem medo de perder aquilo que realmente importa e para mim era Emma.

Era por ela que eu acordava todos os dias, era por ela que eu aguentei todos esses anos e é por ela que eu vou aguentar o que vier pela frente. E foi com esse pensamento que nocauteei o filho da puta! 

Uma ultima lagrima rolou por meu rosto e fechei meus olhos me despedindo do meu passado, prometendo a mim mesma que só olharia para frente, que nunca mais daria a ninguém o poder de me machucar assim. 

Respirando fundo vesti as roupas que Tiger havia me dado, enrolei uma toalha em meus cabelos molhados e coloquei meu melhor sorriso no rosto. Quando Emma finalmente dormisse eu deixaria a dor e a exaustão tomarem conta de mim, mas por enquanto eu me manteria erguida e forte por ela.

Assim que sai do banheiro, andando feito uma velha de 95 anos curvada tentando de alguma forma amenizar a dor, me surpreendi com Emma e Tiger em uma conversa animada, enquanto ambos se deliciavam com um pouco de macarrão e dividiam um suco de caixinha.

— O que vocês dois estão aprontando?

— A boneca aqui estava me contando sobre seus desenhos favoritos e eu descobri que estou precisando me atualizar, não conheço a maioria.

— Mamãe você acredita que ele não viu Nemo? Nem Valente! — minha filha diz indignada.

— Eu não acredito! Tiger você esta perdendo, eles são muito legais, né filha!

— Aham! — Confirma com a boquinha cheia.

— Bem... Isso pode ser facilmente resolvido. Quando chegarmos na sede podemos combinar uma noite de cinema o que acha? Só não posso prometer ao certo quando por que meu trabalho tem uma escala bem complicada.

— Tudo bem! O papai também não conseguia ver desenho comigo, mas a mamãe sempre vê. — diz assim que acaba de mastigar tudinho, quebrando meu coração.

— Sempre que der eu me junto a vocês boneca, prometo. Agora preciso ir, por que estou quebrado.

— Você também fez dodói? — pergunta preocupada.

— Oh não querida. É só um jeito de dizer que estou muito cansado.

— Ah! — Emma solta uma risadinha — Doidinho. — Tiger ri e se levanta.

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Continua...







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