Capítulo 22

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Jake

Eu sabia que deveria descansar, mas não conseguia.
Estava agitado demais com toda a situação, não por Emilia, afinal ela estava indo maravilhosamente bem, era só que... toda essa situação lembrou demais uma época que eu queria apagar da minha memória para sempre.

Durante toda a noite e parte da madrugada me mantive ocupado, evitando qualquer momento ocioso, evitando qualquer momento que me transportasse para aquele maldito lugar novamente.

Emilia estava deitada na cama, dormindo pacificamente, sua cor finalmente estava voltando, o dreno havia sido retirado e todos os seus índices no monitor mostravam que ela estava respondendo bem aos medicamentos.

Cansado de ficar sentado encarando feito a porra de um stalker a mulher que ao que tudo indicava já me odiava, resolvi tomar um ar, mas antes só por desencargo de consciência conferi mais uma vez sua temperatura, sua pele em busca de erupções e por fim o maldito monitor. Não vendo nada errado, me virei pronto para sair quando meus olhos colidiram com o de uma bela mocinha.

— Você não deveria estar dormindo?

— Eu não quero mais dormir. Posso ficar acordadinha com você e ajudar a cuidar da mamãe? — Emma desviou seus olhinhos de mim, encarando o rosto adormecido de Emilia. Não sei dizer o que, mas algo não me parecia certo.

—  A sua mamãe esta indo muito bem Emma, não precisa se preocupar — tento tranquiliza-la — Mas... já que você parece estar decidida a não voltar a dormir, que tal dar uma volta comigo lá fora? Acho que um pouco de ar fresco vai fazer bem para nos dois — Emma sacode a cabecinha e se arrasta com cuidado até mim. Ela levanta seus pequenos bracinhos e eu a pego sem sequer pensar, é automático e porra se isso não me assusta. Nunca havia me dado bem com qualquer criança, me aterrorizava pensar que o bebê de Benny me odiasse como todas as outras pareciam odiar, mas com Emma é tão natural, tão fácil. Sorrio, aconchegando seu pequeno corpinho em meu peito. Saímos do quarto em direção a porta dos fundos, pegando um dos meus casacos antes de sairmos para o ar frio da madrugada.

Do lado de fora, sigo até um dos meus lugares preferidos ali na varanda, me sentando no balanço onde tenho uma bela vista para o lago e o nascer do sol.

— Então pequena, que tal me dizer o que realmente esta incomodando essa sua cabeçinha bonita e te impedindo de dormir? — digo colocando meu casaco sobre ela.

— Eu não quero voltar para casa. — diz com um beicinho fofo em seu rosto.

— Onde você ouviu esse absurdo? — pergunto confuso — Vocês não vão voltar para casa. Você e sua mamãe vão ficar um tempinho aqui, mas depois disso vão para uma casa nova muito legal, onde você vai poder brincar bastante e fazer um monte de amiguinhos. Vai ser um recomeço florzinha, você vai adorar, tenho certeza disso.

— Mas eu não quero ir para lá também. Eu estou cansada de viajar e toda vez que viajamos algo de ruim acontece com a mamãe — Emma diz baixinho com sua doce voz repleta de tristeza. Olho seu rostinho e vejo seu beicinho tremer e os olhinhos se encherem de lagrimas. Meu peito se aperta e eu a abraço mais apertado tentando tranquiliza-la. Se alguém pensou que essa menininha não estava entendendo o que estava acontecendo ao seu redor, esse alguém é um maldito idiota.

— As vezes coisas ruins acontecem para que coisas boas possam acontecer. Eu sei que não faz sentido, mas é a verdade. Você vai aprender quando estiver mais velha que a vida não faz o menor sentido, mas isso não quer dizer que seja algo ruim, o inesperado as vezes é o que precisávamos e nem sabíamos. — Emma fica quietinha por um bom tempo, parecendo pensar. 

— Por que todo mundo quer machucar a minha mamãe? Ela fez alguma coisa ruim?

— Mas que por... Não! Jesus Emma! Nunca pense algo assim de novo. Sua mãe não fez nada de errado querida, tudo que ela fez foi manter vocês seguras. Sua mamãe é a princesa da historia e princesas não fazem coisas ruins. Pelo menos não faziam na época que eu assistia desenho. Sabe me dizer se mudou? — Emma da uma risadinha.

— Não seu bobo! Princesas são boazinhas, as bruxas que são malvadas.

—Ufa! — finjo um alivio  exagerado — Fico feliz que isso não tenha mudado. — digo lhe dando uma piscadela e fazendo uma leve cosquinha em sua barriguinha. — Eu sei que acabamos de nos conhecer florzinha, mas confie em mim quando digo que tudo vai ficar bem. A sua mamãe fez muitos amigos, amigos que eu tenho certeza que fariam de tudo por vocês duas. E você sabe disso não sabe? Por que eu tenho certeza que aqueles três tios dormindo e peidando na minha sala dariam o dedinho do pé ou até mesmo o pé inteiro para que nada aconteça com vocês duas novamente.

— Peidando — Emma da uma risadinha, os olhinhos brilhando. — O tio Gun é o pior, ele tem um pum altão e fedido. — faz careta torcendo o narizinho.

— E só agora você ma avisa isso? — finjo estar indignado — Vamos ter que colocar ele para dormir do lado de fora. Não quero minha casa cheirando a pum podre. — Emma gargalha me fazendo sorrir.

— Você sabe por que os meus titios são meus titios? — Faço que não com a cabeça — Por que eles cuidaram e protegeram eu e a mamãe. Tio Ti foi o primeiro titio que eu tive. Ele cuidou da mamãe e de mim quando saímos do hospital, ele brinca comigo e faz a mamãe rir. Os outros tios vieram depois, eles tem cara de mal mas são uns molengas, quem disse isso foi a mamãe, mas não pode deixar eles saberem, é segredinho — gargalho alto fazendo ela rir junto — Eu gosto muito deles, eles compraram uma mochilinha para mim viajar em segurança no Deivison, Tio T disse que ela ia me proteger se eu caísse, mas o tio Gun disse que ele nem nenhum outro tio iam me deixar cair e eles não deixaram. Tio Kill prometeu cuidar de mim e da mamãe também e ele é o único que brinca de pique comigo sem me deixar ganhar, ele também me joga altão no ar, é muito legal, mas a mamãe não gosta, mas ele faz mesmo assim... — ela cobre a boquinha arregalando os olhinhos. Rio de sua carinha apesar de querer matar a porra desse idiota! Deixo passar esse deslize, esperando encontrar o filho da puta e ter uma seria conversa com ele.

— Eu fico muito feliz que você tenha tios tão legais e protetores.

— Eu também, por que agora eu tenho uma familia grandona. Antes era só a mamãe e eu, agora tem eu, a mamãe, o Tio Ti, o Tio T, o Tio Gun e o Tio Kill, — ela conta nos dedinhos — seis pessoas. — sorri, mas seu sorriso logo morre — Era para ser sete, mas meu papai não gosta de mim.

— Seu papai é um bobão! — digo travando o maxilar — Sabe por que? — ela nega com a cabeçinha —  Por que você é a coisinha mais linda e especial desse mundão todo e o seu papai é um bostão por perder a chance de conviver com você. Não fique triste por causa desse idiota, olha o tantão de tios que você ganhou?! Muitos! E eles com certeza são mais legais que o seu papai.

— Aham! Ele só gritava  e nunca brincava comigo.

— Ta vendo! Um bostão fedido e feioso — Emma ri acalmando o desejo assassino que brotava dentro de mim, me fazendo querer pegar a porra do primeiro avião que pudesse e ir matar o filho da puta!

— Você é doidinho! — da uma risadinha — Você quer ser meu titio também? Mas oh ser titio é coisa séria, por que ser titio é ser família e a gente protege, respeita e cuida da nossa família. Ou seja, nada de fazer minha mamãe chorar, nem machucar ela. — diz me olhando seria.

— Seria uma honra pequena. Mas... não posso prometer não brigar com a sua mamãe, eu e ela temos opniões diferentes em algumas coisas, mas prometo que nunca vou machucar vocês, enquanto vocês estiverem comigo prometo protege-las o melhor que puder.

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Continua...




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