Eu só queria uma guitarra...

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Eu tinha dezesseis anos quando fiz meu primeiro curso de massagem.

Foi um curso de shiatsu de duas semanas de duração e que custou cerca de duzentos e cinquenta reais na época.

Quem pagou foram meus pais.

E a verdade é que, na ocasião, eu não queria aprender massagem. Não tinha qualquer interesse pela coisa ou por qualquer curso do tipo.

Eu ainda frequentava o colégio, estava no segundo ano e tudo o que eu realmente desejava era um vídeo game e uma guitarra.

Só isso.

Naquela época minha vida se resumia em acordar, ir para a escola, assistir as aulas, sair e conversar com meus amigos. Não conseguia sequer pensar sobre faculdade, trabalho, ser alguém na vida...

Na real, juro que não via qualquer sentido em nenhuma dessas coisas e me incomodava ter de pensar nessas coisas. Mas era difícil de evitar já que com essa idade o que não faltava eram pessoas perguntando:


- E aí, o que você vai fazer na faculdade?


Bem...

Seja como for, não foi pensando na faculdade que acabei fazendo o tal curso, mas sim na guitarra e no vídeo game que, já há algumas semanas, vinha tentando convencer meus pais a me darem.


- Tudo bem você querer suas coisas, Gabriel. – minha mãe dizia. – Mas não dá pra ficar dependendo da gente pra sempre. Você vai ter que começar a trabalhar pra conseguir o que quer.


Trabalhar?

Eu não fazia a menor ideia do que isso significava.

Minha família nunca foi rica, mas também não éramos exatamente pobres.

Meus pais tinham casa própria, dois carros na garagem e dinheiro suficiente para criar minha irmã e a mim com certo conforto numa cidade como é São Paulo.

Eu nunca havia tido que trabalhar antes e confesso que naquele momento senti medo.

Um tipo de medo esquisito que costumo ter de coisas que desconheço e que todo mundo fala mal. E este era exatamente o caso já que ninguém perto de mim dizia gostar de trabalhar!

Inclusive meus pais.

Por isso que do meu ponto de vista, se a coisa toda fosse tão boa assim, as pessoas ficariam chateadas por chegar o final de semana e não o contrario.

Elas diriam:


- Que droga! Queria tanto continuar trabalhando. Por que tem que existir final de semana? Espero que segunda feira chegue logo.


Então é claro que fiquei com medo.

Até por que, mesmo sem fazer ideia do quanto meus pais ganhavam, imaginava que talvez pudessem comprar pelo menos um, o vídeo game ou a guitarra, como presente de aniversário ou coisa do tipo.

Tentei barganhar, trocar por notas melhores na escola ou sei lá.

Prometi até ser um filho melhor, mesmo que não fizesse a menor ideia de como eu poderia ser ainda melhor do que era.

Mas não teve jeito. Foi tudo em vão.

Em algum momento eles concluíram que já era hora de eu aprender a ganhar meu próprio dinheiro e estavam determinados a seguir em frente com isso.

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora