Chega a ser irônico já que ainda no último capítulo eu estava justamente dizendo o quão boa é a minha memória, mas apesar de me esforçar bastante não consigo lembrar se o que estou para contar aconteceu na última semana de Maio ou primeira semana de Junho.
Minha única certeza é que foi exatamente no dia seguinte ao tal atendimento da dona Fátima.
Digo isso por que lá estava eu dentro do box no banheiro da minha casa depois de voltar do colégio e passar na farmácia. A água quente do chuveiro caia direto nas minhas costas enquanto eu encarava "minhas partes" cheias de espuma do sabonete e segurava uma gilete de barba com a mão direita.
Dona Fátima havia perguntado o que eu achava da ideia de depilar a região e no calor do momento eu acabei dizendo que não via problema.
E eu realmente não via problema algum, exceto pelo medo de acabar cortando alguma coisa importante no processo.
Conseguia até imaginar o tipo de manchete que isso daria se saísse no jornal:
"Garoto de dezesseis anos morre no chuveiro com pênis decepado por lamina de barbear!"
"Garoto corta o saco e perde as bolas pelo ralo do chuveiro!"
Jesus amado... Senti o frio percorrer minha espinha só de pensar e tive de afastar essas ideias da minha cabeça pelo menos três vezes antes de finalmente conseguir iniciar o processo com mais cuidado que um neurocirurgião.
O engraçado é que, pra minha surpresa, foi incrivelmente rápido e minutos depois eu já não tinha um pelo pubiano sequer.
Meu saco brilhava completamente careca.
Uma careca muito enrugada, mas ainda assim careca.
E o melhor! Sem um único corte na pele, sem pênis decepado e com tudo em seu devido lugar.
E já que estamos falando de coisas constrangedoras, não vou deixar de dizer que saí do banho e me encarei no espelho.
Sim, exatamente do mesmo jeito que costumamos fazer depois de um corte de cabelo.
Analisei o resultado de todos os ângulos possíveis e... Não é que gostei do que vi?
O brinquedo de alguma forma até parecia maior! Algo que definitivamente é levado em consideração quando se tem dezesseis anos.
Vesti minha roupa e saí do banheiro com o cabelo pingando, deixando uma nuvem de vapor para trás e me sentindo um novo homem.
Foi quando ouvi vozes vindas da sala.
Uma delas eu reconheci como sendo da minha mãe e achei estranho ela estar em casa tão cedo. A outra me era familiar, mas só consegui identificar conforme me aproximei.
- Olá. – disse ao entrar na sala.
- Gabriel! – dona Hideko me olhou e sorriu assim que eu apareci. Ela tinha os olhos pretos, cabelos lisos e compridos, magra, era uma senhora de quase quarenta anos que não aparentava sua idade por causa de sua ascendência nipônica. Esta era a mãe de Bianca. – Como vai você, querido?
- Eu vou bem e a senhora?
- Muito bem. – ela me analisou. – Como você está grande. A Julia eu vejo sempre lá em casa, mas você é bem mais raro de encontrar, não é mesmo?
- Acho que sim. – sorri. Eu não tinha o costume de visitar a casa da Bianca.
- Estávamos conversando e esperando você. – minha mãe começou. – Por que demorou tanto no banho?
![](https://img.wattpad.com/cover/343110283-288-k571816.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Por trás do toque
Non-FictionGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...