- Você vai fazer o que eu tô falando! – Rebeca falou e apontou a arma para mim.
Não uma arma de brinquedo, mas sim um revolver calibre trinta e oito que me fez instintivamente congelar no lugar e erguer ambos os braços para o alto num reflexo aprendido em filmes.
E então, silêncio.
Ela estava apenas de calcinha e sutiã. Sua mão tremia e a expressão em seu rosto transbordava a raiva que sentia.
A maca era o único objeto que nos separava e passado o susto inicial, comecei a me perguntar o que raios estava acontecendo ali.
Depois de ter atendido dona Fátima na terça feira, voltei para casa.
Na quarta pela manhã recebi uma ligação cancelando o atendimento do dia seguinte, mas a noite fui avisado por minha mãe que alguém havia ligado novamente e remarcado.
Achei estranho e perguntei com quem ela tinha falado, mas minha mãe não chegou a anotar qualquer informação e disse apenas se tratar de uma garota.
Por "garota" imaginei que tivesse sido a Maria ou outra empregada e não pensei mais no assunto.
Então qual não foi minha surpresa quando na quinta fui recebido na porta do apartamento pela filha da dona Fátima.
Ela me mandou entrar e seguimos pra sala de massagem onde, sem qualquer cerimônia ou perguntas, se despiu e deitou na maca.
- Ahn... Desculpa. Qual o seu nome mesmo? – perguntei. Por mais que me esforçasse, simplesmente não conseguia lembrar.
- Rebeca. – falou em tom mal humorado. – Pode começar.
- Começar?
- Começar com a massagem. - eu não vi, mas podia jurar que ela revirou os olhos.
"Que?!" – pensei.
Dona Fátima não havia dito nada a respeito daquilo e por alguma razão a coisa toda não me parecia boa ideia.
Desconfiado, cheguei a pensar em simplesmente ir embora, mas lembrei que ela havia trancado a porta do apartamento assim que entrei.
"Alguma empregada pode abrir pra mim." – foi o próximo pensamento e talvez tenha sido nesse momento que realmente me dei conta de que talvez não fosse tão simples assim.
Afinal, no geral eram as empregadas que me recebiam e abriam a porta. E eu não havia visto mais ninguém ali.
Minhas opções se afunilaram de tal forma que eu lavei as mãos, passei álcool, suspirei e comecei a trabalhar.
Pensei em perguntar sobre dona Fátima, mas aquela altura eu já tinha concluído que ela provavelmente não fazia ideia do a filha estava aprontando.
E bem... Eu também não.
Então segui o roteiro da massagem com precisão, tomando infinitos cuidados extras para que a garota não tivesse qualquer impressão errada a meu respeito.
E talvez justamente por isso que acabei tão surpreso.
- Pronto, acabamos. – falei depois de pouco mais de uma hora de sessão. – Pode se levantar devagar.
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Por trás do toque
Non-FictionGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...