Se você não contar eu também não conto

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- Por que raios você está só de toalha no meio da sala? – essa foi minha irmã, Julia, ainda brigando comigo sem nem ter entrado em casa.

- Por que eu tomei banho? – respondi com a maior naturalidade, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.


Um fato curioso sobre mim.

Se no lugar da minha irmã e suas amigas fossem minhas colegas de turma, a Natasha ou qualquer outra mulher de mesma idade ou mais velha, eu provavelmente estaria morrendo de vergonha. Mas por alguma razão não conseguia sentir vergonha de garotas mais novas.

Talvez por sempre ter tomado conta da minha irmã, eu não sei.

Foi quando ouvi uma risada e minha atenção se desviou.

Era Bianca, a melhor amiga da minha irmã e também a mais antiga.

As duas se conheceram quando tinham por volta dos cinco anos de idade e desde então viviam grudadas. Perdi as contas de quantas vezes Bianca dormiu lá em casa e viajou conosco, então eu meio que cuidei um pouco dela também.


- Oi Bianca! Você está aí. Tudo bem?

- Que mané "Oi Bianca" o que, Gabriel! Vai por uma roupa pelo amor de deus! Quer me matar de vergonha? – Julia falou novamente e percebi que era melhor obedecer.


Segui para meu quarto encenando uma cara de medo e me troquei.

Quando saí as quatro garotas já estavam acomodadas na sala, sentadas no sofá e com a televisão ligada.


- Oi gente. Tudo bem?

- Esse besta é o meu irmão Gabriel. – Julia me apresentou apontando para mim e revirando os olhos. – Gabriel, essas são Vanessa e Aline.

- Muito prazer, Vanessa e Aline. E essa aqui quem é?

- Como você é besta, Gael. – Bianca falou sorrindo quando apontei pra ela. Só ela e minha irmã me chamavam dessa forma. – Tá todo arrumado por quê? Vai encontrar a namorada?

- Que namorada? – perguntei.

- Esse aí não pega nem gripe, Bi. – Julia acrescentou de forma tão sincera que quase doeu.

- Estou indo trabalhar.

- Trabalhar?! É sério?

- Pode apostar que sim.

- E já está rico?

- Infelizmente não, mas acho que já dá pra levar vocês pra tomar sorvete qualquer dia.


Bianca arregalou os olhos por trás dos óculos. Eu sabia o quanto ela gostava de sorvete.

Ela tinha os cabelos pretos e ondulados descendo até o meio das costas. Seus olhos castanhos eram da cor do mel. Tinha uma pequena pinta na bochecha esquerda que se erguia toda vez que ela sorria, coisa que fazia com certa frequência.

Seu temperamento era calmo e alegre. Por vezes bem distraída.


- Promessa é divida ein! – ela respondeu apontando o dedo para mim com uma cara séria. – E eu quero cobertura.

- Pode deixar. Eu...

- Você sempre cumpre suas promessas. – Julia se antecipou, falando exatamente o que eu ia falar. – Tá, tá. Nós já sabemos. Agora vai embora pra gente poder começar o trabalho da escola.

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora