Juro que não fiz nada disso, professora!

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- Oh meu deus! Que gracinha! – Erika falou, ainda segurando minha mão e me encarando. – Você está todo vermelho!


Eu não consegui falar nada. Então ela simplesmente continuou.


- Você ficou com vergonha! Desculpa, Gabi! Relaxa, ok? Tá tudo bem! Eu também vou te ver pelado.


E é claro que ela não disse isso pra me acalmar.

Se eu já estava vermelho antes agora então não tinha onde enfiar minha cara.

Erika começou a rir e foi só então que soltou minha mão, afinal, precisou levar as duas até a própria boca para segurar o riso.

Sem dizer nada e sentindo como se todo meu sangue tivesse ido parar nas minhas orelhas e bochechas, virei de volta pra frente e encarei a professora que havia continuado a aula.

Deve ter levado uns dez segundos até Erika finalmente parar de rir totalmente.

Eu a ouvi suspirar e tive a impressão, pelo canto dos olhos, que ela ainda estava olhando pra mim quando acabou. Ignorei a sensação e logo estávamos ambos focados na aula.

É claro que achei aquela garota muito estranha e me perguntei que tipo de pessoa em sã consciência se comporta dessa forma com alguém que acabou de conhecer. Será que além de tudo eu tinha dado o azar de cair com a única doida da turma?


A professora Cida disse que provavelmente a massagem havia sido inventada ainda na pré-história quando algum homem da caverna bateu o dedo mindinho numa pedra e esfregou a mão no local para passar a dor.

Contou sobre evolução da massagem pelo tempo e sobre os diferentes textos encontrados ao redor mundo em diferentes épocas, passando pelo Egito, Roma, Grécia, China, Índia, Japão, etc, até finalmente chegar nas técnicas mais atuais.

Daí seguiu para uma pequena aula de fisiologia e anatomia, explicando sobre a estrutura da pele, dos músculos e o funcionamento da corrente sanguínea. As fisioterapeutas pareciam estar tirando a coisa toda de letra e imaginei que já tinham aprendido tudo aquilo na faculdade. Supus então que se aquilo era matéria de faculdade devia estar muito acima do meu nível já que eu ainda estava no ensino médio.


- Isso parece complicado. – falei comigo mesmo, mas alto o suficiente para Erika ouvir.

- Anatomia? – ela perguntou.

- Sim. E todo o resto também.

- Relaxa, você vai se dar bem. Não é tão difícil quanto parece.


Olhei para ela novamente.

Nosso primeiro contato com toda certeza havia me deixado bem inseguro e eu ainda estava me recuperando da vergonha que havia sentido.

Mas pensando melhor talvez ela não fosse tão má assim. Afinal, lá estava ela tentando me dar apoio.

- Quantos anos você tem, Gabi? – ela perguntou.

- Dezesseis.

- Ah! Agora entendi por que você ficou com tanta vergonha. Você ainda é novinho.

- Como assim "novinho"? Você não parece ser mais velha do que eu.


Ela sorriu.


- Eu ouço muito isso, mas tenho dezenove. Você é o mais novo da turma. Agora presta atenção na aula, moleque.

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora