Deixando acabar o que nunca começou

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Dizer que aquilo me pegou de surpresa é pouco.

Meu coração disparou de tal forma que hoje em dia poderia comparar a sensação de ver dois caras numa moto se aproximando numa noite escura em uma rua deserta.

E isso transpareceu no meu olhar.


- Desculpa! – ela falou. – Eu te assustei?

- Não! – meu coração quase pulando pela boca. – Tá tudo bem!

- Aham, sei! – ela riu e eu respirei fundo para me recuperar. – E aí, vamos?


Assim que ouvi essas palavras instintivamente olhei ao redor.


- Ué, cadê o Jonas? – perguntei.

- Ele foi pegar um ônibus. Foi pra casa de um primo. – e começou a caminhar. – E sua... Amiga? – perguntou já um pouco mais a frente.

- Ela não pega o metro. – respondi e me dei conta de que não fazia ideia de como Érika voltava pra casa ou onde morava.

- Ah...


Alcancei Natasha e caminhamos lado a lado em silêncio até chegarmos à escada rolante.


- E aí... Como foi seu dia? – ela puxou assunto e sua voz tinha um tom indiferente. Foi nesse momento que tudo se tornou óbvio para mim.


As coisas já haviam mudado entre nós.

Normalmente estaríamos animados em uma conversa empolgada onde voluntariamente contaríamos as diferentes coisas que aconteceram conosco. Iriamos rir das mesmas coisas, falar mal das mesmas pessoas, debater os mesmos assuntos...

Aquilo não era normal. Não quando qualquer um de nós dois tinha que perguntar para o outro como foi seu dia.

E tudo o que precisou para isso acontecer foram três faltas na escola, um Jonas e um amor não correspondido.

Nós já não estávamos conversando como antes e meu teatro não estava falhando...

Ele já tinha falhado.


- Foi... Bom. – respondi evasivo. – E o seu?

- Foi bom também.


Ainda na escada rolante eu arrisquei virar um pouco a cabeça para olhá-la.

Ela estava atrás de mim, um degrau acima, e isso colocava seus olhos pouco mais alto que os meus.

Natasha percebeu meu movimento e também me olhou nos olhos.

Ficamos assim, em silêncio, até terminarmos de descer e chegar à plataforma, apenas nos encarando como dois desconhecidos que tentam saber o que o outro está pensando.

O desconforto que aquela situação causava era como a de um espinho atravessado no meu coração.

Não doía muito, mas doía a cada vez que ele pulsava.


- Gabi. – ela tentou novamente, mudando de assunto. – O que você acha do Jonas?


"- O que eu acho do Jonas? Sério?" – fiquei ligeiramente surpreso com a pergunta. – "Se eu estivesse trancado numa sala com o Jonas, Hittler e Bin Laden e em minha mão houvesse uma arma com apenas duas balas, com toda certeza eu iria atirar no Jonas duas vezes...". – isso foi o que eu pensei em dizer...

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora