Abri os olhos com Erika tocando meu ombro e me chamando baixinho.
Eu estava tão cansado que simplesmente havia apagado depois de refazer o curativo. Não tinha sequer jogado o lixo fora e ele se espalhava ao meu redor.
- Trouxe um lanche pra você e suco. – ela sussurrou. – Você tá bem?
Se eu dissesse que sim estaria mentindo, mas foi exatamente o que fiz.
- Sim. Eu acho... – olhei para Erika e a vi num pijama rosa e branco com gatinhos estampados. Uma cena encantadora. Depois olhei ao redor e percebi o quarto iluminado somente por um abajur na mesa de cabeceira. – Que horas são?
- Quase dez horas.
Recolhi a bagunça do chão e sem saber o que fazer com aquilo, coloquei tudo na mesma sacola que as roupas sujas. Elas provavelmente acabariam no lixo de qualquer jeito. Senti minha perna doendo ainda mais quando levantei e dessa vez, o suficiente para gemer baixinho.
- Isso aí não parece bom.
Olhei para o machucado e o curativo já estava manchado de sangue.
- Como enfermeiro eu dou um ótimo massagista...
- E como massagista da um ótimo gigolô.
- Há há! Muito engraçado. – fui até o lanche, peguei e mordi.
Erika estava sentada na cama com as pernas esticadas sobre o colchão e as costas apoiadas na cabeceira.
Seu quarto tinha pôsteres de bandas, instrumentos musicais, roupas jogadas e coisas como cadernos e folhas de papel espalhados num pequeno caos que combinava com sua personalidade.
Além da cama havia o guarda roupas e uma mesa de cabeceira com o abajur. Uma cortina de colunas brancas e pretas cobria a janela fechada que dava para a rua.
Me perguntei mentalmente, entre mordidas, se conseguiria escapar por ali caso seu Sergio surgisse querendo acabar comigo.
Erika ficou me olhando comer e depois que bebi o suco ela me chamou para sentar ao seu lado na cama.
- Eu disse que ia te esconder no meu quarto. – foi o que falou assim que me acomodei.
- Seu pai realmente não faz ideia que estou aqui?
- Desde que a gente não faça barulho ele nem vai reparar.
- Tomara. Já tive a minha cota de pessoas querendo me matar.
- Meu pai não tentaria te matar, Gabriel...
- Ahn, não?
- Não. – ela me olhou de canto de olho e sorriu. – Ele conseguiria.
- Que ótimo. Era tudo o que eu precisava ouvir. – respirei fundo, fechando meus olhos e apoiando a cabeça na parede. – Sabe... Quando a gente se conheceu, eu só queria um vídeo game e uma guitarra.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Por trás do toque
Non-FictionGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...