Acordar na manhã da segunda feira e descobrir que eu ainda estava vivo foi simplesmente horrível.
Não podia faltar no colégio pra sempre, por mais que essa fosse minha vontade.
Então levantei da cama me arrastando, tomei meu café como se fosse minha última refeição, vesti meu uniforme como se fosse uma camisa de força e segui para aquele manicômio que as pessoas chamavam de colégio.
Segundo especialistas, um lugar fundamental para a formação do meu intelecto e caráter.
Lembro de, parado em frente a escola, encarar os portões como se fossem os próprios portões do inferno, adentrar o local sem a mínima vontade de falar com ninguém, ignorando olhares e cumprimentos enquanto cruzava o pátio e corredores, e então chegar na sala onde imediatamente me aproximei de Miguel e pedi para que trocasse de lugar comigo.
Rafael, Tobias e Miguel fizeram toda uma suposição a respeito de como provavelmente Natasha e eu havíamos brigado por causa da Érika e não vendo qualquer sentido em tentar convencê-los ou em contar a verdade, deixei que especulassem a vontade.
Pelo menos Miguel trocou de lugar comigo antes da própria Natasha chegar.
Acabei descobrindo pouco depois que Thiago havia ganhado o apelido de "fura olho" por ter tentando "pegar a minha mina" e que todos já sabiam do fora que ele tinha levado da Érika.
Esse era o novo boato que corria pela sala.
Natasha chegou, viu que eu havia trocado de lugar e por um momento pareceu ficar triste.
E é claro que eu, que já estava triste, acabei ficando um pouco mais.
Então comecei a entoar o meu mantra mentalmente: "Acabou".
Eu sabia que a partir de então os dias seriam assim, era tudo questão de me acostumar.
Aí terça chegou e me peguei ansioso para ir atender dona Fátima.
Ficava me perguntando se haveria uma repetição do que tinha acontecido na quinta feira e não vou mentir, eu estava torcendo para que sim.
Minha imaginação estava a mil por hora e eu realmente só fui ter uma compreensão clara do quanto esperava por aquilo quando a sessão de massagem acabou e nada aconteceu.
Maria me recebeu no saguão, subimos e como de costume dona Fátima me recebeu na sala de massagem com seus tradicionais dois beijinhos. Partiu para trás do biombo e saiu de lá com outra lingerie que eu nunca tinha visto.
Deitou na maca e comecei meu trabalho.
Uma hora depois eu estava terminando e foi isso...
Sim, só isso.
Só a massagem.
Então ela se levantou, voltou para trás do biombo, se trocou, pegou o dinheiro e me pagou.
É claro que fiquei feliz ao receber meu pagamento, mas voltei pra casa profundamente frustrado.
Cheguei a pensar que talvez dona Fátima tivesse se arrependido e acho que essa foi a primeira vez em que realmente levei em consideração o quanto aquilo tudo era errado.
Revisitei a memória com outro olhar.
Dona Fátima era uma mulher imponente que transpirava poder. Ela tinha aquele ar firme e altivo, mas por trás disso tudo ela era só uma mulher. Suscetível as mesmas fragilidades humanas das outras pessoas. Ansiedades, medos, carência...
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Por trás do toque
Non-FictionGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...