- Alô... Julia? – Erika estava sentada no sofá e me encarava enquanto eu falava ao telefone. – Sou eu.
- Gabriel? Onde você tá? - falou como que dando bronca. - A mãe vai te matar.
"Melhor ela entrar na fila". – foi o que pensei, mas o que realmente disse foi...
- Eu tô na casa de uma amiga. Aconteceu uma coisa...
- 'Espancado, sequestrado, baleado, mas ainda vivo...' – Erika falou imitando um programa da rádio da época e eu fiz careta para que ela ficasse quieta.
- O que é que você fez agora?
- Eu conto tudo depois. Preciso de um favor.
- Que é?
- Tem uma agenda na minha mochila. Pega ela, por favor, e me passa o número da professora Cida e da dona Fátima.
- Tá...
Ouvi Julia largando o telefone e olhei pra Erika enquanto isso.
- Dona Fátima? – ela perguntou com cara de desconfiada, mas eu não respondi.
- Tá... Anota ai. – e passou ambos os números que tratei de escrever numa folha de papel.
- Obrigado, Ju.
- Que horas você volta?
- Ainda não sei... Isso depende do próximo favor.
- Outro?! Que é? Fala logo.
- Eu preciso que você veja se tem uma pessoa na rua. Mas é muito importante que você não seja vista enquanto olha.
- Ahn? Como assim?
- Se a pessoa que eu falar estiver na nossa rua, ela não pode te ver, Ju. E também não pode saber que você a viu, entendeu? – eu não fazia ideia do que aquele homem seria capaz e não queria arriscar que a Ju se tornasse alvo caso ele estivesse ali.
- Aff, Gabriel. Para de besteira.
- Julia! É sério.
Eu não costumava falar daquele jeito exceto em situações muito especificas e ela acabou levando a sério.
Descrevi o carro e o homem da melhor forma que pude de acordo com o que lembrava e mais uma vez ouvi Julia largar o telefone.
Tanto Erika quanto eu permanecemos em silêncio e apreensivos enquanto aguardávamos a resposta.
- Tá... Como é que você sabe? – foi o que ela disse assim que voltou. – Tem um cara do jeito que você falou estacionado um pouco mais pra cima na rua.
Eu gelei.
Eu obviamente considerava a possibilidade dele estar lá, mas ao mesmo tempo havia uma parte de mim que torcia para que tudo tivesse chegado ao fim no momento em que consegui escapar.
Claro... Como se ele fosse simplesmente desistir, não é mesmo?
- Ele não te viu, não é? – minha voz ficou ainda mais séria.
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Por trás do toque
غير روائيGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...