A quebra do contrato de sigilo

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No caminho de volta contei pro Cris e pra Erika o que havia acontecido desde o momento em que o carro parou ao meu lado na rua da minha casa.

Ao fazer isso percebi que por vezes eu simplesmente voltava na memória e sentia de novo todo o desespero da ocasião, me ausentando da realidade por alguns segundos.

Decidi omitir a razão pela qual tudo aquilo havia acontecido, em partes por vergonha, mas também por que não via a relevância disso naquele momento.

Se eu tivesse encontrado a policia primeiro, provavelmente meu modo de agir seria completamente diferente. Mas ali, deitado no banco de trás do carro Cris e revisando mentalmente a coisa toda, eu só queria descansar.

Eu precisava disso.


- Tá, mas por que você quer ir pra minha casa?

- Você acha que o cara tentaria te pegar de novo na sua casa? – Cris se adiantou, entendendo o que se passava na minha cabeça.

- A coisa toda aconteceu na minha rua...

- Por isso mesmo, não é melhor ir a policia?


Erika se virou pra trás ao ouvir a sugestão do Cris e me olhou.

Ela sabia que eu estava escondendo algo e eu sabia que dela não teria como escapar.


- Leva a gente pra minha casa, Cris. – falou, sustentando o contato visual como se conseguisse ver minha alma. – Depois a gente vai na policia.


Descobri no trajeto o quão longe eu estava de casa.

Foram cerca de duas horas e meia de viagem.

Cris e Erika demoraram mais do que isso e por diversos motivos, entre eles a necessidade de pegar emprestado uma coisa chamada "guia quatro rodas", que era literalmente um livro com mapas rodoviários.

Na hora eu não me dei conta, mas hoje sei o tamanho da minha sorte naquela ocasião.

Seguindo por aquela estradinha, não havia outra opção senão passar por onde eu estava escondido, mas ainda assim, uma infinidade de coisas poderia ter dado errado.

Primeiro bastava que um de nós desistisse. Eu de esperar ou eles de procurar.

Também poderia acontecer deles passarem reto por mim por algum motivo. Por eu ter me distraído ou por não terem me visto.

Continuariam procurando nos lugares errados até cansar.

Eles poderiam ter se perdido ou confundido as vias.

O carro poderia ter quebrado... Ou minhas indicações terem sido insuficientes.

E apesar de tudo, no final, lá estávamos nós reunidos na sala da casa da Erika.

Seu Sergio havia ido para a loja e não tinha mais ninguém em casa além de nós três.


- Cris, muito obrigado. – dei um abraço nele. – Você me salvou, cara. Estou te devendo muito.

- Eu só dei uma carona, não fiz nada. – ele olhou pra Erika em seguida. – Vou pra casa. Qualquer coisa vocês me ligam?

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora