Eu também te amo

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- Tudo bem mesmo? – minha mãe perguntou. Estávamos conversando na cozinha perto do horário de sair pro aeroporto. – Se você quiser ir, eu fico.

- Não... Tudo bem. Eu já me despedi da Bibi ontem.


"Ontem"...


As palavras saíram com um gosto amargo.

Eu estava mentindo pra mim mesmo de tantas formas que não fazia ideia de como conseguiria me forçar a acreditar naquilo.

E pra falar a verdade, nunca acreditei.

Tanto é que consigo lembrar com precisão das minhas palavras e como pronunciei cada uma delas.

De como o "ontem" voltou imediatamente à minha memória exatamente no momento em que a palavra saiu da minha boca.

Como me forcei a manter distancia interpretando ser alguém que eu não sabia mais como ser...

Naquele "ontem", jantamos todos juntos e não falamos nada sobre ela ir embora.

Assistimos a um filme qualquer em silêncio, por que ninguém sabia o que dizer.

Comigo sentado no chão, ao invés do mesmo sofá onde ela normalmente estendia as pernas sobre as minhas.

Minha irmã se levantou sozinha pra ir dormir e Bianca apenas a acompanhou.

..."Ontem" eu fiquei sozinho no sofá querendo esmurrar meu próprio peito até fazer meu coração parar. Sem consegui dormir, atormentado por pensamentos e emoções que simplesmente não se calaram em momento algum.

Foi nesse "ontem" que decidi encarar como ultimo desejo daquela lista o pedido de Bianca de não acompanha-la ao aeroporto pra me despedir.

Como se eu quisesse me despedir...

A lista incompleta só me lembrava de quantos milhares de outras coisas deixaríamos de fazer juntos.

Então talvez eu também tenha escolhido ficar apenas pra não ter de vê-la ir embora.

...E tudo o que restou disso foi:


- Se cuida, Bibi. – disse depois de abraça-la por um bom tempo e lhe dar um beijo na bochecha. – Eu...


E perdi completamente as palavras enquanto olhava para seu rosto.

Seus olhos brilhantes por trás dos óculos. Seus lábios suaves.

Sua expressão era como a de uma coelha presa numa armadilha torcendo por salvação.

Então a vida continuou a passar como sempre faz, sem esperar por ninguém, nem mesmo por meus pensamentos ou minhas palavras, e meu pai buzinou na rua.


- Vamos filha! Beijos, Gabriel. Trate de mandar noticias, viu. – dona Hideko me abraçou e me segurou pelos ombros olhando pra mim mais uma vez. – Você vai ser um bom homem, tenho certeza.


"Um bom homem". – repeti em meus pensamentos. Mas antes mesmo de conseguir processar aquilo, a porta já havia se fechado.

Ouvi suas vozes se afastando, entrando no carro e então o ronco do motor se distanciando... Depois disso... Silêncio.

O silêncio da casa vazia.

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora