As palavras da Natasha me pegaram desprevenido e eu realmente fiquei surpreso por ela dizer que sentia a minha falta.
Não esperava por isso.
Por mais confiante que eu tivesse me tornado, naquele momento eu não fazia a menor ideia do que poderia haver em mim para sentir falta.
Eu mesmo não sentiria falta de mim e de várias formas me julgava completamente dispensável.
Mas por outro lado também percebi o quanto era bom poder voltar a conversar com ela, principalmente daquele jeito. E não posso negar que fiquei feliz em ouvir aquelas palavras.
Eu não estava tentando impressioná-la e nem tomando cuidado com o que ela poderia pensar a meu respeito, duas coisas que costumava fazer mesmo que inconscientemente quando estávamos juntos.
Nós só estávamos ali. Conversávamos sem um pingo de segundas intenções ou outros sentimentos da minha parte e isso fez com que eu percebesse uma série de coisas.
A primeira foi que com certeza não estava mais apaixonado por ela. Todo rastro de dúvida foi varrido naquele momento e a própria memória da coisa toda pareceu até um pouco embaraçosa.
Então notei que também sentia falta dela.
Eu tinha a Dani, a Bianca e até a doida da Érika para conversar. Tinha também o Rafael como meu melhor amigo. Mas a verdade é que eu não conseguia me abrir com eles tão facilmente quanto me abria com a Nat.
Eu sentia falta disso.
De poder contar as coisas da mesma forma que venho contando nesses relatos.
E foi justamente pensando nisso que cheguei a terceira conclusão.
"Pelo menos eu tinha a Dani." – pensei.
Depois de tudo o que houve naquele fatídico dia em que me declarei, Natasha respeitou meu espaço e me deixou quieto no meu canto.
Danielle e eu acabamos nos aproximando, mas eu não vi a Nat fazendo o mesmo tipo de amizade com mais ninguém.
Claro que ela tinha o Jonas e no final foi justamente por causa dele que acabamos voltando a nos falar.
Mas ali, depois de tudo, eu tinha recuperado o suficiente da minha autoestima pra perceber que nem como amigo aquele bosta devia servir e que pelo menos na escola ela talvez se sentisse sozinha.
Esses pensamentos me fizeram olhar bem para Natasha enquanto ela desembrulhava um segundo pirulito. Ela parecia um pouco desconfortável, talvez sentindo que estava forçando a barra.
- ...Se você não quiser, eu vou entender. – falou ainda baixinho levando o pirulito a boca.
Mas pra mim a resposta parecia bem óbvia.
- Não sei não. – tentei não sorrir enquanto fazia um pouco de drama, voltando a por as mãos atrás da cabeça e encarando o céu.
- O que você não sabe? – ela perguntou se virando pra mim.
- Pode não ser uma boa ideia. – não consegui segurar, o sorriso escapou nos meus lábios.
Eu estava alegre.
E por que não estaria?
Mesmo que não estivesse mais apaixonado por ela, eu gostava da Natasha.
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Por trás do toque
Non-FictionGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...