Desmoronando

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Você sabe o que é sentir como se o seu mundo estivesse ruindo?

Pedaço a pedaço, um pouco de cada vez...

Esse foi meu primeiro pensamento na manhã de terça feira.

Na noite anterior os meus pais continuaram a discutir no quarto deles, de portas fechadas, deixando Julia e eu sozinhos na sala para lidarmos com a nossa parte do peso daquilo tudo e depois de alguns minutos sem que nenhum de nós falasse qualquer coisa, voltei do limbo que era os meus pensamentos e lembrei que mais do que nunca eu tinha um papel a cumprir.


- Vamos, Ju. – e estendi a mão pra ela. – Vamos escovar os dentes e dormir.


Ainda chorando, ela balançou a cabeça concordando e assim fizemos.

Foi a primeira vez que reparei o quanto Julia estava diferente já que pela carga emocional da situação eu esperava uma reação mais explosiva.

Mas não.

Ela apenas caminhou junto comigo, escovou os dentes entre lágrimas, revezamos para esvaziar a bexiga e ainda me esperou sair para seguirmos para o quarto juntos como minha mãe disse que ela fazia quando era pequena.


- O que vai acontecer agora? – Ju pergunto, já de pijama e deitada em sua cama.

- Agora...


Eu pretendia responder, mas então a porta do quarto dos nossos pais se abriu e meu pai saiu.


- Ju... Gabriel...?

- Oi pai. – respondi. Ele não chegou a entrar e apenas continuou a falar.

- Eu vou ficar fora por um tempo.

- Pai? Onde você vai? – e Julia voltou a chorar, mas ele não chegou a responder.

- Cuida da sua irmã, Gabriel.

- Pode deixar...

- E Ju... Papai te ama. Obedece sua mãe e seu irmão, viu?

- Pai! - Julia pulou da cama correndo e foi dar um abraço nele, pedindo para que ele não fosse embora.


Pra mim isso estava além da minha disposição naquela ocasião.

Fiquei exatamente onde estava e apenas me virei para o lado oposto ao da porta.

Apesar dos inúmeros apelos, não demorou até meu pai sair e dali a pouco o carro ouvi o carro dando a partida e depois se afastando.

Julia voltou para a cama e sei lá quanto tempo levou até ela parar de chorar e cair no sono.

Eu mesmo dormi com muito custo, me revirando várias vezes e saltando de pesadelo em pesadelo até o despertador tocar.


- Que merda... – resmunguei, quase esmurrando o objeto e levantando da cama na força do ódio. Senti minhas pernas doerem do tanto que havia andado no dia anterior.

A porta do quarto dos meus pais estava fechada. Bati duas vezes e ao tentar abrir percebi que estava trancada. Um sinal bem óbvio de que minha mãe não queria ser incomodada.

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora