Lei Mário da Penha

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Eu realmente fiquei sem saber exatamente por onde começar esse capítulo.

Escrevi, apaguei e reescrevi pelo menos cinco vezes até conseguir chegar num ponto que julguei bom o suficiente.

Isso por que o anterior teve mais repercussões do que o esperado.


A diretora estava especialmente irritada quando nos recebeu em sua sala.

Ela já se encontrava pronta pra ir embora quando foi avisada de que alguns alunos estavam brigando dentro da sala de aula. Fez questão de que soubéssemos disso antes de dizer suas sábias palavras.

Lembro até hoje de nós três parados ali de pé enquanto ela transformava sua raiva numa lição de vida:


- Da próxima vez deixem pra brigar fora da escola! De preferência pelo menos dez quadras de distância daqui!


Ainda há pouco havíamos sido interrogados sobre o que havia acontecido.

Eu mantive segredo a respeito do motivo da briga. Jonas também não disse nada. E Rafael contou apenas que partiu pra cima do Jonas por que o viu me batendo.

Mas na realidade a diretora não queria nem saber e provavelmente devia estar se questionando por que perdeu tempo perguntando aquilo.

Da minha parte acabei achando injusto que a mesma punição fosse aplicada aos três, principalmente ao Rafael que só se meteu para me ajudar. Mas se tem algo que aprendi na escola é que ela nunca serviu para ensinar nada sobre justiça.

Mas era ótima em ensinar sobre ordem.

E mesmo que a principio as duas coisas soem parecidas, há uma distância gigantesca entre uma e outra.

Muros altos, grades nas janelas e adultos mantendo a disciplina e o controle através da imposição do medo. Você já parou para notar a semelhança entre uma prisão e um colégio?

Desde que nós alunos permanecêssemos comportados perante as regras da escola podíamos fazer o que quiséssemos, mesmo que isso viesse a causar prejuízo emocional e psicológico de outros colegas.

Tudo sempre em ordem, mesmo que de forma injusta.

Então, depois de suas sábias palavras e de nos dar as advertências e suspensões para assinarmos, a diretora pegou suas coisas e foi embora.

A inspetora de alunos assumiu a posição de figura de autoridade e nos informou que nossos pais teriam de comparecer na segunda feira.

Com um pouco de medo, fiquei pensando em como meus pais reagiriam aquilo.

Rafael também não parecia animado e até mesmo o Jonas também não.

Para evitar mais confusão a inspetora seguiu o "protocolo" para quando alunos brigavam. Um aluno sairia pelo portão da frente e o outro pelo portão da quadra para que não voltássemos a nos pegar nos socos assim que estivéssemos na rua.

No caso, Rafael e eu é que fomos dispensados pelos fundos.

Aproveitei esse momento para matar minha curiosidade a respeito de por que ele tinha decidido voltar pra sala sendo que já tinha ido embora.

Ele me contou seu lado da história:


- Eu e os moleques acabamos passando pelo Jonas no corredor e ele parecia muito puto. – começou dizendo. – Ouvi um dos amigos dele dizendo algo como "Se fosse eu quebrava o maluco pra ele aprender a não ferrar com a minha foda".

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora