Aquele foi o único beijo daquela noite.
Depois disso Bianca ficou envergonhada, afastou seu rosto e voltou a se aconchegar entre meus braços com a testa apoiada em meu peito.
Eu não sabia como reagir, também estava envergonhado.
Então acabamos simplesmente ficando assim, juntinhos sob a coberta quente enquanto o filme continuava a passar na tv sem que prestássemos qualquer atenção.
A ideia de alguém acordar já nem passava mais pela minha cabeça e tudo o que conseguia pensar era no que havia acabado de acontecer, no que ainda estava por vir e principalmente naquele pequeno momento.
Ficamos assim por tanto tempo que quando me dei conta eu simplesmente havia cochilado.
Meu braço estava dormente e formigava sob a cabeça da Bianca.
Devagar olhei a televisão e vi que o filme já estava no letreiro, então me voltei novamente para ela e percebi que ressonava baixinho em sono profundo.
Uma parte de mim desejou que o tempo simplesmente parasse.
Afaguei delicadamente sua cabeça e com cuidado fui saindo do sofá para poder pegá-la nos braços.
A carreguei com coberta e tudo para minha cama onde a deixei dormindo confortavelmente.
Quando voltei para sala e deitei no sofá acabei me perguntando como seriam as coisas no dia seguinte. Como Bianca iria agir? Como eu deveria me comportar?
E para minha surpresa foi como se nada tivesse acontecido.
Assistimos ao outro filme de manhã enquanto esperávamos pelo almoço e isso fez com que ele perdesse mais da metade do seu poder assustador. Filmes de terror pedem pela escuridão e silêncio da noite.
Bianca voltou pra casa pouco depois das duas da tarde e nesse meio tempo não chegamos sequer a conversar a respeito do ocorrido.
Acabei me perguntando se ela realmente se lembrava do que tinha acontecido ou se eu mesmo não havia sonhado, mas deixei tudo de lado ao concluir que também existia a possibilidade dela ter se arrependido. Sendo esse o caso talvez fosse melhor deixar as coisas daquele jeito.
Para mim, no entanto, não foi exatamente tão simples assim.
Durante todo o restante do sábado e o domingo inteiro fiquei voltando várias vezes para a memória daquele beijo.
O meu primeiro beijo.
E assim, na segunda feira quando me despedi das duas ao deixa-las na escola, me peguei desejando beijá-la novamente.
Não sabia dizer se Bianca se sentia da mesma forma, mas acabamos ficando ali parados por longos segundos, um olhando nos olhos do outro, antes do simples beijo na bochecha sair e elas entrarem pelos portões.
Segui para o colégio me sentindo meio idiota e envergonhado, mas tudo passou bem rápido quando, ainda de longe, tive a impressão de ver uma garota de cabelos puxados para o ruivo com as costas apoiadas num muro. Junto dela havia um garoto mais alto que estava a sua frente.
Logo de cara já imaginei que pudesse ser Danielle, talvez com um namorado novo ou coisa do tipo. Mas conforme me aproximei confirmei que apesar de ser mesmo a Dani ela não parecia nada confortável com a situação. Na verdade parecia até mesmo assustada.
O garoto a sua frente também era muito familiar e assim que o reconheci senti meu rosto se contrair ao mesmo tempo em que acelerei meu passo, sendo tomado pela irritação.
- ...Estamos entendidos, putinha? – ouvi Jonas falando em tom agressivo para ela sem se dar conta do quão próximo eu já estava.
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Por trás do toque
Non-FictionGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...