A verdade é que eu não sei exatamente como explicar tudo o que estava acontecendo na minha cabeça naquele exato momento da minha vida.
A quarta feira chegou e não houve nada de diferente dos outros dias exceto pelo fato de que Julia, Bianca e eu iríamos ao cinema.
Eu já estava almoçando quando minha irmã entrou pela porta da frente depois de mais um dia de aula. Ela me cumprimentou com seu tradicional resmungo troglodita, algo que não raramente indicava que estava com fome e precisava ser alimentada com urgência antes que acabasse matando alguém.
Largou as coisas pela sala, foi ao banheiro e de lá direto para a cozinha onde esquentou seu prato. Depois disso foi se arrumar para que pudéssemos sair e como eu já estava pronto, apenas continuei ensaiando um pouco mais com o violão, aprimorando a porcaria de música que vinha tentando compor.
Pouco tempo depois, quando a campainha tocou, já sabíamos que era a Bibi.
Pegamos nossas coisas, saímos e antes mesmo de chegar ao portão meus olhos contemplaram uma Bianca mais do que linda em seu vestido, com o cabelo arrumado e preso por algumas presilhas coloridas.
Seus olhos brilhavam por trás das lentes dos óculos enquanto esperava sorrindo pela nossa aproximação.
- Oooi, Gael.
- Ooooi, Bibi. Uau... Você está muito bonita.
Ela fez uma cara fofa e enquanto isso Julia já tinha se colocado pra caminhar.
Seguimos de metro e fomos conversando durante todo o trajeto.
Um dos motivos de eu ter escolhido esse dia era o fato de ser mais barato e acredito que esse tipo de promoção exista até hoje naquela rede de cinema, mas confesso que nem sequer me recordo do filme que vimos naquela ocasião. Tudo o que lembro é de passar a sessão inteira com vontade de beijar a Bianca.
Ela estava bem ali ao meu lado.
Eu sentia o seu perfume e volta e meia me pegava olhando em sua direção, completamente alheio a tela do cinema.
Com toda certeza que eu preferia que estivéssemos sozinhos, mas seria no mínimo egoísta e até injusto da minha parte querer afastar a minha irmã quando faltava tão pouco pra Bianca ir embora.
Comprei pipoca e refrigerante para nós três exatamente como elas haviam colocado na lista. Depois disso também passeamos pelo shopping e antes de voltarmos pra casa ainda paguei nossa refeição na praça de alimentação.
O dinheiro estava indo embora bem rápido, mas eu havia garantido ainda pela manhã, quando não havia ninguém em casa, que minha carteira teria o suficiente para aquele dia.
As duas estavam felizes e pra mim era isso que realmente importava.
- Tudo bem mesmo, Gabriel? – Bianca perguntou preocupada depois de eu pedir nossos lanches e pagar para a moça do caixa.
- Relaxa, Bibi. – Julia respondeu por mim. – O Gabriel tá rico de tanto trabalhar.
- Rico eu não estou, mas se não desse pra pagar eu avisava, Bi. – sorri. – Então, vamos aproveitar.
Ela sorriu, agradeceu e na mesa fizemos um brinde a mais um item da lista concluído, encostando nossos refrigerantes no alto como se fossem taças.
Ficamos ali comendo e conversando até que Julia resolveu ir ao banheiro, finalmente nos dando um momento a sós.
Esperei até que ela estivesse suficientemente longe e só então fiz um sinal com uma das mãos para que Bianca se aproximasse enquanto eu mesmo me curvava à frente como se fosse lhe contar um segredo.
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Por trás do toque
No FicciónGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...