- Ué, eu estava sozinha. – ela respondeu rápido e sem gaguejar. – Por quê?
- Eu jurava que você tinha dito que estava com seus pais.
- E como é que eu ia estar com meus pais, Gabriel? – perguntou com um sorriso na voz.
Fiquei pra lá de confuso, pensando em silêncio enquanto observava suas costas.
Eu realmente podia jurar que Dani havia dito que tinha ido com os pais ao tal restaurante.
Lembrava perfeitamente dela me dizendo isso com todas as palavras.
Mas ali naquele momento, lá estava ela esquentando a comida e me dizendo que seu pai tinha ido embora e sua mãe tinha morrido. Comecei a me perguntar se não tinha ouvido errado ou se estava ficando louco.
Afinal, não havia como ela se confundir a respeito de uma coisa dessas não é?
Por que ela diria que foi com os pais se há anos que ela mora com a avó?
Não fazia sentido...
Senti meu rosto se contrair numa clara expressão de dúvida que ela notou de imediato assim que se virou.
- Me dá seu prato, Gabi. – falou ao me encarar. – Que foi?
- Ahn? Nada...
- Anda, dá seu prato.
Peguei ambos os pratos e me aproximei para que ela pudesse nos servir. Então nós dois sentamos junto à mesa e começamos a comer enquanto conversávamos sobre outras coisas.
Tive de fazer um esforço pra deixar tudo aquilo pra lá e me convencer de que a coisa toda já estava resolvida, afinal não fazia sentido focar num detalhe que nem era assim tão importante para a história.
- Tá boa a comida? – ela perguntou.
- Muito gostosa.
- Geralmente eu como sozinha, então nem ligo tanto.
- Sua avó não almoça com você?
- Ah, ela com certeza já almoçou. – e deu risada. – Ela almoça cedo e depois dorme um bom tempo.
- E você fica fazendo o que?
- As vezes faço a lição ou vejo televisão... As vezes eu saio... Ou fico sem fazer nada... Lendo? Sei lá...
Tentei me imaginar no lugar da Dani naquela casa antiga e tendo como companhia apenas a avó e a televisão preto e branco. Aquilo me pareceu pra lá de solitário.
- Depois de comer você pode copiar a matéria que perdeu.
Eu tinha pensado em pedir os cadernos emprestados pra levar pra casa ou até mesmo dizer que não precisava, mas uma leve tristeza me fez aceitar.
Dani não era uma pessoa solitária apenas na escola, mas em casa também.
Então depois de comermos eu lavei a louça e seguimos para seu quarto.
Assim como o resto da casa aquele ambiente não tinha nada de especial.
O guarda roupas, criado mudo e a cadeira eram feitos de madeira e eram tão antigos quanto os outros móveis que eu já havia visto. Apenas a penteadeira e a cama pareciam mais novas e não exatamente caras.
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Por trás do toque
NonfiksiGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...