Querido Gabriel.
Desculpa por demorar tanto pra escrever.
As coisas por aqui são tão diferentes.
Eu comecei na escola, mas ainda não sei direito japonês e não entendo a maior parte das coisas. Tenho certeza que vou acabar indo mal na maior parte das matérias.
As pessoas também são estranhas.
Não de um jeito ruim, mas elas tem costume pra tudo. E eu nunca sei se estou fazendo as coisas direito.
Aqui todo mundo se chama por "san", que significa senhor ou senhora e tem uma forma certa de falar com cada pessoa pra ser respeitoso.
Aí todo mundo é sempre muito educado e fico com medo de estar faltando com o respeito.
Já levei algumas broncas e eu nem entendi por que.
A parte engraçada é que tiveram que me explicar que era bronca, por que eu também não entendi o que disseram.
Até pra comer tem regra.
Por isso sinto saudades do Brasil.
Sinto falta de ficar com você e com a Julia. De alugar filme na locadora, ficar assistindo até tarde, de tomar sorvete vendo tv.
Até da escola eu sinto falta.
Eu nunca achei que fosse sentir falta da escola.
Minha mãe esta trabalhando bastante. Tipo muito mesmo.
Eu vejo ela menos do que quando estávamos no Brasil.
Ela diz que é questão de tempo e que logo vou me acostumar. Mas pra mim parece que já passou uma eternidade.
Estamos morando numa casa que aqui chamam de apartamento.
Também é bem pequeno. Menor do que a casa que morávamos ai.
As pessoas com quem mais converso também vieram do Brasil, mas a gente não fala muito.
Tem mais coisas que dava pra contar, mas a carta ia ficar enorme.
E você? Como tem passado?
Me conta o que tem acontecido por ai.
Vivo lembrando dos meus últimos dias aí.
Eu ainda não acredito que você foi até o aeroporto.
Minha mãe me fez um monte de pergunta e me deixou morrendo de vergonha.
Mas eu fiquei feliz que você foi.
E por isso que eu acabei reescrevendo essa carta várias e várias vezes.
Eu sei que a gente conversou quando eu estava no Brasil e que a gente nunca disse que era namorado.
Mas agora que estamos tão longe eu entendo que o que tivemos acabou.
A gente sabia que ia acabar, não é mesmo?
Mas eu fiquei muito triste por causa disso e com medo também.
Por que você sempre cuidou de mim desde pequena e sempre me tratou muito bem.
Por isso eu espero que você não esteja bravo comigo e que se algum dia eu voltar ao Brasil as coisas possam ser como antes.
Meus dias mais felizes foram com vocês.
Bianca
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Por trás do toque
Non-FictionGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...