- Você não devia ter chegado há mais de uma hora?! – respondi, completamente indignado.
- Eu tive um problema, tá legal? – ela replicou, quase parecendo chateada. Isso foi o suficiente pra eu "guardar as armas".
- Que problema? – perguntei, baixando minha voz e me preocupando por um momento.
- Eu esqueci que era hoje.
- Sério, Érika?! Esse foi o problema?!
- Eu to aqui, não to?! – e se aproximou mais da mesa. – Chega pra lá, feioso. – falou para Miguel. Eu estava sentado de frente para Rafael. Miguel ao meu lado estava sentado de frente para Tobias.
De alguma forma todos eles pareciam muito surpresos com a sucessão de eventos. A ideia de contestar não pareceu sequer passar pela cabeça de Miguel e ele apenas obedeceu, se levantando e cedendo o lugar para que Erika pudesse se sentar ao meu lado.
Thiago era o que parecia mais surpreso. Sua boca estava aberta há tanto tempo que eu achei que nunca mais fosse voltar pro lugar.
- Cheguei, procurei você e cadê? Nada de Gabriel! – ela continuou. E o engraçado é que pela maneira que Érika falava, ela realmente parecia se achar dona da razão. Tanto que eu não sabia diferenciar se ela estava brincando para acalmar os ânimos ou falando sério. – O bonito tava aqui curtindo com os amigos!!! Sério, Gabriel?!
- Sério, Erika?!
- Ok... Então... – Rafael começou. – Você vai dizer quem é sua amiga?
- Você fica quieto! – ela falou se dirigindo a ele.
- Cala a boca, Rafael. – completei.
Tobias voltou a rir escrachadamente e de boca cheia, mas parou assim que Erika roubou uma de suas batatas como se não fosse nada.
- Você sabe quanto tempo eu fiquei esperando? – perguntei olhando no fundo de seus olhos.
- Por mim?
- É claro, Érika! Pela rainha da Inglaterra é que não foi.
- Por mim você ficou esperando sua vida inteirinha. – ela mordeu a batata sem desviar os olhos dos meus, mudando o tom de sua voz de irritada para algo que só posso descrever como, no mínimo, provocante.
E foi isso...
Com isso eu calei minha boca.
Simplesmente não tinha mais o que ou como responder.
Pra começo de conversa eu nem estava irritado de verdade, só esperava que ela pelo menos pedisse desculpas.
Mas essas palavras vindas tão do nada acabaram com qualquer linha de pensamento que havia na minha cabeça.
Pra piorar, sei lá por que, lá estava eu com o rosto todo vermelho de vergonha de novo. Afinal, esse era seu super poder. A capacidade extrema de me fazer ficar envergonhado.
E foi o que bastou.
Assim que me viu daquele jeito Érika voltou a sorrir novamente.
- Tá! – continuou, mudando completamente de assunto. – Me apresenta. Quem são esses?
Eu suspirei profundamente, aceitando a derrota, retomando a compostura e apontando pra cada um enquanto falava.
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Por trás do toque
Kurgu OlmayanGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...