O primeiro violão a gente nunca esquece

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- Boa tarde. Tudo bem? Eu poderia falar com a Erika?


Sábado.

Pouco depois do meio dia.

Lá estava eu ao telefone, ligado para o número que Erika havia me passado.


- Boa tarde. – uma voz grave respondeu de volta. Era masculina e parecia mais velha, imaginei que poderia ser o pai dela. – Quem gostaria?

- Meu nome é Gabriel. Sou amigo dela.

- Amigo é? – o homem perguntou, parecendo tão desconfiado quanto Julia e Bianca que não paravam de me encarar de seus lugares no sofá. Senti meu rosto começando a ficar vermelho conforme o silêncio do outro lado da linha foi aumentando. – Ela ainda está dormindo.

- Sim, eu sei... É que ela pediu que eu ligasse para acordá-la e...


Novamente o homem ficou mudo e eu comecei a me sentir muito desconfortável com a situação.

Nunca gostei de falar ao telefone.

Fazia de tudo para não ter que atender e fazia ainda o dobro para não ter de ligar.

E mesmo assim, lá estava eu de pé na minha sala, com o equipamento junto à orelha, ouvindo aquele ilustre desconhecido respirar sem falar nada.

Já estava pensando em desligar quando o ouvi gritar.


- ERIKAAAAAAAAAAA! – tomei um susto tão grande que meu corpo chega tremeu. O grito foi tão alto que mesmo Julia e Bianca ouviram. Minha irmã começou a rir de seu lugar no sofá. – OW GAROTA! VEM ATENDER O TELEFONE!


Depois disso ouvi apenas o som do telefone sendo colocado em algum lugar e então... Silêncio.

Continuei ali parado por um minuto inteiro sem que nada acontecesse. Dois se passaram... Cinco minutos e nada!

Já estava mais pronto pra devolver o telefone ao gancho quando sons surgiram do outro lado da linha.


- Alô... – a voz de Erika estava mais do que sonolenta, era praticamente um resmungo. – Quem é?

- Como assim, quem é? – fiquei indignado. – Sou eu, Gabriel.

- Oi Gabriel. Tudo bem?

- Metro Tatuapé? Duas da tarde?

- Ah é.

"Ah é?!" – pensei comigo. Tudo aquilo pra um "ah é"? Sério mesmo que ela já tinha esquecido?

- Sem atrasos dessa vez?

- Pode deixar. – ela disse, cheia de sono. – Sem atrasos.

- Então até já.

- Espera. – falou antes que eu desligasse. A voz parecendo só um pouco mais desperta. – Quando chegar lá não sai das catracas. Nós vamos a um lugar.

- Lugar? Que lugar?

- Waaaaaah! – bocejou alto. – Você vai ver.


E desligou, sem qualquer avisou ou despedida.

Ainda parado ali, de pé e com o telefone na mão, encarei o olhar penetrante da minha irmã.


- Érika? – perguntou, erguendo uma sobrancelha e me olhando desconfiada. – Quem é Érika, Gabriel?

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora