Sábado...

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Eu acabei faltando na escola na sexta feira também.

Estava em uma sucessão de coisas erradas e me pareceu que uma falta a mais ou a menos não faria qualquer diferença.


"O que é um peido pra quem esta cagado?" – foi o que pensei enquanto, mais uma vez, abandonava o caminho do colégio e voltava andando para casa.


Engraçado que aquela expressão nunca pareceu combinar tão bem comigo quanto naquele momento.

O assunto a ser resolvido na escola era só mais uma das muitas confusões que se acumulavam na minha cabeça. E eram tantas essas confusões que já nem sequer sabia mais como devia me sentir.

Então às vezes me sentia bem, às vezes me sentia um lixo e às vezes não sentia nada.

Foi assim que deixei a sexta feira passar e o sábado chegar.

Como um zumbi.

E também foi como um zumbi que acordei, comi, tomei banho e me troquei.

Saí de casa tão mais cedo que cheguei ao ponto de encontro nas catracas do metrô Tatuapé vinte minutos adiantado.

Encostei em um canto qualquer e me pus a esperar, alternando entre olhar ao redor e olhar para o relógio, sem saber de que lado Erika viria.

O relógio marcou duas da tarde e nada dela chegar. Imaginei que provavelmente havia dormido demais e se atrasado. Seria algo bem provável para alguém como ela.

Só que então mais dez minutos se passaram. Depois mais dez. E então outros dez...

E por fim, quando dei por mim, já estava esperando sozinho na multidão há mais de uma hora.


"Mas o que eu estou fazendo, afinal?" – pensei comigo, como se uma verdade óbvia finalmente tivesse me atingido. – "Por que raios ela viria?".


O período do curso de massagem clássica havia sido muito legal, mas naquele momento eu não conseguia encontrar um bom motivo para alguém como a Erika sequer se lembrar da minha existência.

Eu mesmo não me daria ao trabalho.

Então, não havia o que fazer.

Me sentindo meio idiota e chateado, dei de ombros e comecei a caminhar para ir embora.


- Gabriel? – ouvi uma voz familiar, primeiro baixo e depois gritando. – Ow! Gabriel!


Era Rafael e outros amigos da minha sala.


- E aí, carinha. Há quanto tempo! – disse enquanto caminhava em minha direção. – Tá fazendo o que aqui? Você não vai mais pra escola não?


Estaria mentindo se dissesse que me alegrei ao vê-los.

Rafael, Thiago, Miguel e Tobias.

Os quatro que estavam ali pareciam arrumados como que para uma festa, mas na real só pretendiam matar o tempo no shopping e com sorte pegar alguma garota.

Era algo que faziam com certa frequência. Talvez quase todo final de semana.

Algo que pra mim nunca fez muito sentido.

Não apenas por que eu já gostava da Natasha, mas também por que não me via confortável ficando a toa naquele lugar. Isso sem contar que até pouco tempo atrás nem dinheiro eu tinha pra gastar.

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora