E no dia seguinte...
Bem... Não posso dizer que, como das outras vezes, voltamos a nos comportar como se nada tivesse acontecido. Estava na cara que alguma coisa tinha mudado.
Tanto Bibi quanto minha irmã pareciam mais alegres que no dia anterior. Estavam mais animadas e rindo, o que eu achei fantástico. Mas, além disso, volta e meia eu notava Bianca me observando de um jeito diferente e então desviando o olhar parecendo envergonhada.
É claro que eu também não devia estar olhando pra ela da mesma forma, só não percebia isso. Eu queria poder voltar a beijá-la, mas sentia como se o que havia rolado entre a gente tivesse se tornado um segredo só nosso.
E eu sempre fui bom em guardar segredos.
Então acabei me conformando de que qualquer coisa que envolvesse esclarecer nossa situação teria que esperar uma oportunidade mais propícia e simplesmente aproveitei o dia junto dela.
Vocês também devem lembrar que eu não havia falado para meus pais que um dos dois precisaria comparecer na segunda feira no colégio pra conversar com a diretora.
Confesso que deixar para última hora não foi a melhor decisão.
Trouxe de volta à luz do momento toda a questão da briga e tive de ouvir um sermão extra da minha mãe antes dela dizer que depois ligaria na escola. Ela não estava disposta a faltar no trabalho por causa disso e meu pai nem sequer deu bola pro assunto.
Já da minha parte o que digo é que até hoje não entendo como ser suspenso pode ser considerado castigo.
A escola era um inferno.
Imagine então você aprontar alguma coisa e ganhar três dias de folga em casa.
Quase senti vontade de arranjar uma briga por semana quando a segunda feira chegou e não tive de acordar cedo.
Rolei confortável sobre a cama ouvindo o silêncio da minha casa.
Levantei com calma, tomei banho, troquei de roupa, preparei um achocolatado com toda a tranquilidade do mundo e então peguei a lista que Bibi havia deixado. Comecei a planejar um cronograma.
Naquele mesmo dia talvez conseguisse levar as duas até a sorveteria e ainda na quarta daquela mesma semana poderíamos ir ao cinema.
Lendo tudo o que estava escrito ficava fácil de diferenciar o que Bianca havia colocado por vontade própria e o que Julia a convenceu a adicionar.
Um exemplo era o item "fazer maratona de filmes de terror".
- Tadinha... – falei em voz alta pra mim mesmo quando li isso.
Dei especial atenção as coisas que dependiam inteiramente de mim e concluí que a massagem talvez fosse fácil de resolver já que eu poderia aplicar o shiatsu. Tudo o que iria precisar era de um colchonete.
Mas o que realmente me preocupava era a parte de me ver tocando com a banda.
E você pode até estar pensando que isso era por causa do quase beijo na casa da Érika no sábado, mas a real é que eu não conseguia sequer vislumbrar o nível de constrangimentos e vergonhas aos quais eu seria submetido só de permitir a presença daquela doida junto da maluca da minha irmã.
Vocês fazem ideia que só por causa daquela única ligação da Érika, ainda no sábado antes de dormir, meu pai veio e me cutucou com o cotovelo? Assim que olhei ele levantou os dois polegares, fez um gesto obsceno com as mãos e uma cara pervertida como quem pergunta "E aí, filhão? Transou muito?".
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Por trás do toque
NonfiksiGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...