Terça feira chegou e era dia de voltar para o Morumbi e atender dona Fátima.
Passei o período da escola todo evitando a Natasha da forma mais sutil possível.
Não queria que ela notasse que eu estava tentando me afastar.
Na verdade, não era isso o que eu queria, só não conhecia outra forma de lidar com o que estava sentindo.
Queria que continuássemos amigos e que ela fosse feliz com o Jonas ou quem quer que ela viesse a escolher. Mais do que qualquer outra coisa e mais do que ninguém, o que eu realmente queria era isso. Pura e simplesmente queria que ela fosse feliz.
Mas ao mesmo tempo eu também não queria ficar triste.
Então, depois de quase quatro anos apaixonado, eu estava finalmente desistindo.
Desistindo da esperança de que algum dia ela percebesse meu amor. Desistindo de ter coragem para um dia contar. Desistindo da ilusão de um futuro onde estaríamos juntos. Desistindo da ideia de que ela escolhesse a mim.
Disse pra mim mesmo que só precisava me afastar por um tempo.
Apenas o necessário até toda aquela emoção sumir.
Mas quanto tempo isso ia levar? Eu não fazia ideia.
Só aquele primeiro dia já havia sido imensamente frustrante.
Eu estava ali, sentado logo atrás dela, mas não a chamava para conversar como de costume. Também evitei ao máximo ficar por perto e procurei escapar sempre que havia uma oportunidade. Respondi somente o necessário, mas ainda tentando ser gentil e não parecer frio.
Tudo isso exigiu uma força de vontade tão grande que quando o sinal da ultima aula tocou eu já estava esgotado.
- Vem, Gabi. Vamos embora? – ela falou, colocando a mochila nas costas e me puxando pelo braço.
Nós morávamos perto um do outro. Era muito comum voltarmos juntos e essa costumava ser uma das minhas partes favoritas do dia.
Andar pelas ruas, só ela e eu, conversando sobre o que quer que fosse e a fazendo rir com alguma besteira inventada.
Isso pelo menos até o dia anterior quando Jonas passou a nos acompanhar pela maior parte do caminho.
E hoje lá estava ele de novo, esperando no pátio como o combinado.
- Amor! – Natasha falou quando o viu. Foi até ele e o beijou. – Que saudades.
"Saudades...? Sério? Pelo amor de deus, vocês se viram no intervalo!" – pensei comigo, mas mantive a cara inexpressiva.
- Saudades também. – ele falou, mas sem a mesma empolgação.
- Preciso ir ao banheiro antes. Vocês esperam um pouquinho?
- Claro. – Jonas respondeu.
Ela entregou a mochila para ele e saiu de cena caminhando sem pressa.
- E aí, Gabriel. Podemos trocar uma ideia? – ele perguntou e pareceu que estava apenas esperando que Natasha se afastasse o suficiente para não poder ouvir.
- Claro.
- Não tem um jeito fácil de falar isso então vou ser direto. Você vai levar isso em frente até quando?
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Por trás do toque
SaggisticaGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...