Por trás do fim...

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Na maioria das ocasiões em meio ao processo de contar esses relatos, eu me vi de frente sempre a uma grande dificuldade.


"Por onde começar?"


E agora, prestes a concluir, é claro que não poderia ser diferente.

Conversar com meus pais não foi fácil.

Especialmente minha mãe.

Você deve ter reparado que, diferente do meu pai, em ocasião alguma cito o nome dela. Mesmo não sendo o nome verdadeiro.

Na real, seu pedido foi para que eu não a citasse de forma alguma e mesmo sabendo que isso seria impossível, quando comecei estava inclinado a fazer o esforço.

Mas hoje isso já não importa mais e posso dizer que a razão pela qual ela solicitou tal coisa era a somatória de vergonha que sentia tanto pelo que eu havia feito quanto por si mesma e a maneira como lidou com a situação.

Então naquele dia, sentados em meio a bagunça deixada por aquele homem, contei entre trancos e barrancos o que havia acontecido.

Mas não... Não foi com detalhes e muito menos completo.

Deixei tanta coisa de fora que se fizesse o mesmo nessas páginas a história provavelmente não teria mais do que três capítulos.

Foi só o suficiente.

O necessário para que entendessem o que eu tinha concluído já dentro do carro a caminho de casa.


- Se eu ficar eu vou morrer.


Não havia como ter certeza daquilo, mas quem é que pagaria pra ver?

Dessa vez o homem talvez nem se desse ao trabalho de me sequestrar. Bastava atirar de dentro do carro ou numa ocasião em que eu estivesse sozinho.

E tenho certeza de que ele nem sequer seria preso.

A meu ver, o fato de ele não ter encontrado o tal diário era mais um motivo pra fazer isso logo. De preferência antes que eu tivesse alguma ideia que acabasse expondo dona Fátima e seu marido.

Então ficou acertado que eu iria para outra cidade, em outro estado, morar com parentes que eu costumava ver somente em reuniões de família. Minha mãe ia ligar para minha tia e eu partiria naquele dia mesmo.

E não que fizesse qualquer diferença para minha situação, mas não sei descrever como me senti ao perceber como minha mãe pareceu aliviada e talvez até contente com essa decisão. Como se estivesse se livrando de algo indesejado.

A execução, no entanto, não ocorreu exatamente como o planejado.

Peguei a mochila, joguei no carro e seguimos para a casa do meu pai.

Encontrei Julia e contei pra ela tudo, inclusive o que ia acontecer a seguir.

Ela chorou e eu a abracei forte.

De tudo o que fiz, foi só ali junto dela que eu finalmente me arrependi de verdade.

Primeiro Bianca, depois nossos pais e agora eu...

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora