Me pergunto até que ponto seria exagero dizer que dona Fátima acabou comigo.
Sem entrar em maiores detalhes a respeito do que continuou a acontecer naquele quarto depois que voltei do banheiro, digo apenas que recebi quatrocentos reais e que no dia seguinte ainda demorei a entender por que meu abdômen e coxas doíam tanto.
Obviamente que o pagamento não foi condizente ao tempo de prática, mas sim ao de permanência e mais um bônus.
Vestida em uma camisola tão transparente a ponto de não fazer qualquer diferença entre usar aquilo ou permanecer nua, dona Fátima colocou o dinheiro em minha mão, me puxou mais uma vez pela camiseta, enfiou sua língua em minha boca num beijo agressivo e então me empurrou pra fora do apartamento dizendo "até terça".
Estava claramente bêbada e eu morto de fome.
Não havia condições de voltar pra casa sem comer alguma coisa, então mais uma vez fui para o shopping onde acabei demorando um pouco mais.
Peguei o trem e metro no horário de rush, com as pessoas voltando do trabalho e isso só é importante por causa da sucessão de eventos no dia seguinte na escola.
- O que você estava fazendo no metro ontem por volta das sete? – Miguel falou do nada. Estávamos na troca entre aulas e ele fez questão de falar alto para que os outros ouvissem e ainda num tom desconfiado.
- Que?
- Eita! – Tobias arregalou os olhos e já puxou o bonde. – É, Gabriel. O que você estava fazendo no metro ontem por volta das oito?
- É, Gabriel! O que você estava fazendo no metro ontem por volta das nove? – foi a vez de Rafael e com isso acabei olhando pro Thiago. Só faltava ele.
- Não olha pra mim. Eu sei o que você tava fazendo.
- Sabe? – achei estranho e os outros também olharam pra ele.
- Sim. Tenho certeza que tava dando em alguma zona por aí.
- Cê tava dando, Gabriel? – Tobias fez cara de surpresa. – Parando pra pensar, isso explica muita coisa.
- Ah, vão se foderem. – e riram.
- Mas e ai? Que você tava fazendo? – Miguel insistiu.
- Tava voltando do trabalho.
- Ai óh. Falei que tava dando. – e riram novamente.
- Trabalho? Massagem? – Rafael perguntou genuinamente. – Você ainda tá fazendo isso?
E voltamos pra parte quinta série das piadinhas eróticas que dessa vez, mal sabiam eles que algumas tinham até um fundo de verdade.
Miguel contou que seu pai me viu no metro, mas como não tinha certeza se era eu, não foi me cumprimentar.
Dani acabou ouvindo a conversa toda.
Também pudera. Imagino que metade da sala deve ter ouvido.
Mas foi a deixa pra ela me chamar aos cochichos assim que a aula seguinte começou:
- Você ainda tá me devendo uma massagem.
- To? – brinquei. – Não lembro disso não.
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Por trás do toque
Non-FictionGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...