E de uma forma tão simples quanto um estalar de dedos, todos meus pensamentos foram varridos da minha cabeça no exato momento em que Bianca entrou por aquela porta.
Ela tomou um susto, soltou um gritinho e deu um pulo pra trás. Seu corpo se virou na direção da porta e por um breve momento seu instinto foi o de correr dali. Mas então Julia apareceu atrás e as duas se abraçaram enquanto todos batiam palmas e gritavam parabéns.
Bibi estava vermelha como uma maçã e cochichou algo com minha irmã que apontou para mim.
Nesse momento eu já estava de pé, passando a alça da guitarra sobre o ombro enquanto Diana pegava o microfone.
- Bianca! Essa aqui é pra você! – e deu uma olhada pra trás, checando se Erika, Cris e eu estávamos prontos. – Feliz aniversário!
Eu queria muito dizer pra vocês que nesse momento fiz valer a pena todos os ensaios que tivemos. Que lasquei pau na guitarra e que a musica saiu melhor que a original.
Mas na real foi uma porcaria.
Abrimos com a clássica Smells Like Teen Spirit do Nirvana, uma das músicas que a própria Bianca sugeriu que eu aprendesse e no nervosismo da ocasião consegui a proeza de errar a entrada todinha.
Não bastando isso, logo em seguida Cris veio com a batera na hora errada e por um momento tudo ficou uma bosta tão grande que a Erika ao invés de tocar se lascou a rir ao mesmo tempo em que balançava a cabeça em negação.
- Cês tão de zoa com a minha cara? – Diana falou alto no microfone, abandonando o lado princesa e assumindo sua versão mais punk rock. – Seus bando de bosta! Toca direito essa merda e não fode com meu Nirvana não! Vai Gabriel, se errar de novo vou enfiar esse microfone na sua bunda e arrancar ele pela sua boca!
Imagino como deve ter sido a cena do ponto de vista da plateia, por que eles estavam rindo ainda mais que a Erika. Diana era uma fofa, mas no palco era comum ela se transformar. Foi algo com o que me acostumei, mas que a primeira vez fez meu queixo cair.
Então, começamos de novo e dessa vez sem erros. Depois foi a vez de Song 2 do Blur e da terceira em diante não lembro muito bem. O que é uma pena, por que hoje em dia eu adoraria colocar a lista no meu app de musicas.
- Feliz aniversário, Bibi! – Fui ao seu encontro na primeira pausa. Ela estava de costas para mim, conversando com a Julia e alguns amigos de escola que eu não conhecia.
- Gael!
Ela se virou e nos abraçamos tão apertado que a ergui do chão.
Nossos olhares se encontraram quando estávamos nos afastando e tive de me esforçar para segurar a vontade de beija-la.
- Está feliz?
- Muito! Eu sabia que vocês estavam aprontando alguma coisa, mas eu não fazia ideia do que. A Julia só tinha dito que nós íamos assistir seu ensaio e depois sair pra comer em algum lugar pra comemorar.
- Nem vou perguntar se você gostou. Saber que você não ficou surda já tá de bom tamanho.
- Que surda o que! Eu amei!
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Por trás do toque
Non-FictionGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...