O primeiro trabalho a gente nunca esquece

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A professora Cida me deu um nome, um endereço e me lembrou de algumas instruções.


- Você pode usar qualquer roupa, mas usar branco vai te deixar com um ar mais profissional. Não se preocupe, eu já falei que você é novo e está começando. Siga o que expliquei no curso e vai dar tudo certo.


Então, na tarde do dia seguinte, lá estava eu.

Era uma quinta feira de meados de Março e foi a primeira vez que fiz o caminho.

Nunca havia ido até o Morumbi antes e fiquei surpreso em ter de pegar ônibus, metro e até trem para chegar a um lugar ainda dentro da cidade. Mais uma dessas ocasiões em que realmente percebi o quanto São Paulo é grande.

Depois de caminhar um pouco parei em frente ao prédio, me identifiquei para o porteiro e informei o apartamento e a pessoa que desejava encontrar.

Menos de um minuto depois já estava do lado de dentro e aguardava no saguão. A instrução dada pelo porteiro era que uma empregada havia sido designada para me acompanhar.

E realmente, ela veio. De uniforme e tudo.

Juro que nunca tinha visto uma empregada usando uniforme antes. Sério mesmo. Aquilo foi tão fora da minha realidade que ficou guardado na minha memória.

Ela desceu pelo elevador de serviço, se dirigiu a mim por "senhor Gabriel" e pediu que a acompanhasse.

Subimos pelo mesmo elevador que ela veio.

Ela abriu a porta do apartamento, pediu que eu entrasse e então me levou até a sala de massagem onde uma segunda empregada terminava de preparar a maca cobrindo com um lençol branco e depois separando algumas toalhas.


- Está faltando alguma coisa? – a segunda empregada perguntou assim que terminou e eu olhei ao redor instintivamente.


A sala tinha espaço mais que o suficiente para comportar a maca. Havia numa estante um aparelho de som que já estava tocando um CD com músicas relaxantes. A luz ambiente vinha de arandelas nas paredes e a intensidade podia ser diminuída ou aumentada gradualmente através de um botão no interruptor perto da porta.

Em uma das prateleiras havia diversos tipos de cremes de massagem. Numa outra havia outros equipamentos como massageadores elétricos e coisas do tipo.

O lugar era praticamente um mini spa.

Outras prateleiras estavam repletas de toalhas, pedras e cristais, lençóis e sabe-se lá mais o que.


- Não. Acho que tá tudo aqui. – e não sei nem de onde veio o "acho" já que tudo o que eu precisava era das minhas próprias mãos.

- Muito bem então, se precisar é só chamar. – ela se apresentou, mas eu estava tão impressionado com o lugar que em menos de um minuto já havia esquecido seu nome. – A dona Fátima virá em breve. Fique a vontade para fazer seus preparativos ou aguardar.

- Muito obrigado.


Preparativos? Que preparativos?

Lavei as mãos numa pia que havia ali e resolvi usar o álcool em gel logo em seguida só por que também estava lá.

Depois disso não tinha mais o que fazer a não ser esperar.

E quanto mais esperava mais nervoso eu ficava.

Estava tão ansioso quanto alguém que vai prestar uma prova.

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora