Rebeca não falou mais nada. Ela apenas puxou o lençol para cobrir seu rosto e permaneceu exatamente onde estava, chorando baixinho.
Não sei exatamente quanto tempo ficamos ali daquele jeito, mas sei que foi o suficiente para que as perguntas se amontoassem na minha cabeça.
"Onde ela conseguiu a arma?"
"Ela realmente queria me matar?"
E principalmente... "Cadê a chave?"
Claro, também me perguntei o que raios eu estava fazendo.
Afinal, quem em sã consciência iria se dispor a tentar consolar a pessoa que ainda a pouco tinha um revolver apontado na sua direção?
- Gabriel, você tem problema... – murmurei pra mim mesmo.
- Que?
- Ahn? Ah... Não... Estava falando comigo mesmo. - e fiz uma pausa, pensando no que fazer a seguir.
Minha única certeza era a de que eu não queria que aquilo se prolongasse, então me levantei, peguei suas roupas e voltei para entregar.
- Que tal se vestir? Tá frio... Você vai se gripar. – e apenas sua mão saiu do casulo de lençol, agarrando as roupas antes de se levantar e ir pra trás do biombo.
Continuei parado no lugar, esperando Rebeca se trocar e pensando nos possíveis desfechos pra tudo aquilo.
Me perguntei o que ela pretendia falar pra mãe dela e o que aconteceria se ela dissesse que eu fiz algo que eu não fiz?
Mesmo se eu desmentisse e tentasse explicar, quem iria acreditar?
- Tudo bem aí? – perguntei assim que a preocupação começou a se transformar em ansiedade. – Precisa de alguma coisa?
- Seu nome é Gabriel, não é?
- Sim...
- Desculpa quase ter atirado em você.
- Tudo bem.
"Tudo bem?"
"Tuuudooo beeem?!"
Depois que as palavras saíram da minha boca eu me senti um tanto idiota.
Como assim "tudo bem?".
A maneira como eu estava lidando com a coisa toda não combinava em nada com a gravidade real da situação e antes que eu pudesse parar pra analisar o por que, ela continuou:
- Você vai contar pra minha mãe?
"Pra sua mãe?"
Não.
Eu definitivamente não queria contar pra dona Fátima. Mas o que mais me surpreendeu foi ela se preocupar com isso ao invés de imaginar que eu pudesse contar pra policia ou sei lá.
O que provavelmente não faria qualquer diferença já que ambos éramos menores de idade e ela filha de uma família rica.
Não tinha dúvidas de que numa situação dessas seria eu a me ferrar, mas ainda assim...
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Por trás do toque
NonfiksiGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...