E por que não?

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- Há quanto tempo, Gabriel. Tudo bem? – dona Fátima perguntou assim que entrou na sala de massagem. Ela me cumprimentou com os tradicionais dois beijinhos sem realmente esperar por resposta e seguiu para trás do biombo. – Esses dias tem sido uma loucura. Você vai ter trabalho, viu.


Eu havia passado os últimos dias dizendo para mim mesmo que precisava seguir em frente, mas não estava sendo nada fácil. Então não posso dizer que realmente queria estar lá e torcia para que aquele fosse um dia de apenas massagem. Eu precisava do dinheiro para pagar meus pais e depois disso...

Bem... Eu não tinha pensado no que fazer depois.

Dona Fátima saiu de trás do biombo vestindo uma lingerie nova e se deitou de barriga para baixo na maca.


- Pode começar pelos ombros? – pediu e eu apenas obedeci.


Ela tinha razão sobre eu ter trabalho.

Havia mais pontos de tensão em suas costas do que de costume e eu a ouvia gemer a cada vez que apertava algum para soltar.

Gastei um bom tempo ali, em silêncio, deslizando as mãos e friccionando cada região intumescida de seus músculos.


- E aí? – ela falou de repente, me tirando de uma espécie de transe e trazendo de volta para a realidade. – Quer me contar o que você tem?

- Ahn...? Nada...

- Sei. – e virou a cabeça para me olhar. – Talvez a gente não se conheça tão bem, mas da pra perceber que você não está normal. Além disso, eu sou boa em saber quando mentem pra mim.


Forcei um sorriso e me perguntei o que fazer. Estava em duvida se aquilo seria uma boa ideia.


- Você não precisa falar se não quiser. – e gemeu tentando relaxar um pouco mais o ombro para que eu liberasse uma banda de tensão. – Eu lido com segredos todos os dias, então eu entendo. Mas lembre-se, o que acontece nessa sala, fica nessa sala.

Dona Fátima deu uma piscadinha, sorriu e então voltou a fechar os olhos.


- Eu só estou um pouco triste. – acabei falando. – Bastante, talvez.

- Algum motivo pra isso?

- Uma pessoa que gosto muito se mudou para o Japão. – disse depois de uma pausa para pensar exatamente em como dizer aquilo. – E acho que nunca mais vamos nos ver.

- Por quê?

- É bem provável que ela não volte mais.

- Se ela não vem, por que você não vai?


A pergunta me pegou desprevenido. Até aquele momento eu ainda não havia sequer contemplado essa possibilidade.


- Você tem vontade de ir? – dona Fátima perguntou e abriu os olhos mais uma vez para me observar.

- Eu não tinha pensado nisso.


E num refluxo de ansiedade, minha mente saltou numa outra situação.

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora