Aquela foi uma noite difícil.
A principio achei que só não estivesse conseguindo dormir por causa de todos os pensamentos que ficavam saltando em minha cabeça.
Algumas frases da discussão dos meus pais, Rebeca apontando a arma pra mim, as mentiras da Dani, dona Fátima e eu, as coisas idiotas que meus amigos falavam, memórias antigas que eu nem sequer contei aqui...
As coisas simplesmente se atropelavam, depois começaram a rodar, mesmo de olhos fechados eu me senti tonto, depois enjoado e então, num impulso, saltei da cama e corri para o banheiro.
Foi por muito pouco que deu tempo de chegar e por pra fora tudo o que eu havia comigo.
Senti meu coração batendo forte e meu estômago doendo.
Minhas coxas também não pareciam nada felizes com aquele exercício inesperado.
Respirei fundo e achando que estava melhor, escovei os dentes e me preparei pra voltar pra cama.
Só que meu corpo tinha outros planos e acabei ficando por lá mesmo.
Vou poupa-los dos detalhes nojentos, mas basta que saibam que em poucos minutos eu já tinha desidratado o suficiente por ambos os lados a ponto de não conseguir ficar de pé direito.
Mais alguns minutos e a dor no meu abdômen não me deixava sequer raciocinar.
Caminhei bem devagar pela casa, curvado sobre mim mesmo e parecendo mais uma alma penada do que um ser vivo.
Parei em frente o quarto da minha mãe e bati na porta.
Duas vezes... Três vezes... Cinco vezes.
Chamei e ouvi minha voz sair baixa.
Julia acordou e vi quando se aproximou.
Eu já estava no chão com as costas apoiadas junto a porta do quarto da minha mãe.
- Gabriel? Tá tudo bem?
E minha resposta foi passar mal novamente, só que não tinha mais nada pra sair.
Julia bateu, gritou e nada da minha mãe acordar.
Eu sei que apaguei ali e voltei a acordar ouvindo minha irmã chorar.
Fiz força pra me levantar, sentindo meu corpo gelado e os músculos rígidos.
Eu não queria que ela chorasse.
A luz da sala estava acesa e Julia estava no telefone.
Eu disse alguma coisa, mas não lembro o que falei ou se minha voz sequer saiu.
Apaguei de novo e então estava no carro com meu pai e a Ju.
Por fim, quando abri os olhos de novo, estava no hospital sendo medicado através de um acesso venoso.
Passei a noite em observação e quase precisei de internação.
O diagnóstico médico foi de intoxicação alimentar, mas hoje em dia sei que não foi apenas isso.
Eu não andava me alimentando direito, nem dormindo como deveria ou sequer bebendo água o suficiente. Era só questão de tempo até eu adoecer e quando a coisa chegou foi como uma voadora bem no meio da cara... Ou no estômago, no caso.
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Por trás do toque
Non-FictionGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...