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Érika saiu de cima de mim sem me entregar as camisinhas e rápida como uma lebre pulou para o sofá onde estava o violão.

Também procurei ser rápido e sentei no outro sofá o mais longe possível dela no exato momento em que a porta começava a se abrir.


- Hey pai, já voltou? – Erika falou assim que o viu entrar. Suas habilidades teatrais eram admiráveis.

- Boa tarde seu Sérgio. – tentei usar a voz mais calma que eu consegui.

- Como assim "já"? – e puxou um pouco a cortina revelando a janela. Por causa do inverno já estava escurecendo lá fora. – O que ele tá fazendo aqui? – perguntou apontando pra mim com a cabeça.

- Aproveitamos pra ensaiar.

- Ensaiar é? – e sorriu enquanto apontava para os controles de Mega Drive sobre a mesinha. – Já disse que não quero você trazendo homem nenhum em casa quando eu não estiver.

- Mas o Gabriel é só meio homem. – disse olhando pra mim e sorrindo. – A outra metade é panda.

- Vai virar um panda inteiro se eu pegar ele de novo aqui quando eu não estiver. – e pareceu sério o suficiente pra me fazer ter medo. Então seguiu pra cozinha e continuou a falar de lá. – Tem alguma coisa pra comer?

- Tem bife pra fritar e arroz e feijão num Tupperware. – Érika respondeu ainda olhando pra mim. – Que é isso, pai? Não precisa falar desse jeito. Não é como se o Gabriel fosse tentar alguma coisa comigo. – e sem desviar o olhar sacou as duas camisinhas e as agitou no ar, sorrindo.

- Bom pra ele. – e ouvi a geladeira abrindo enquanto eu sussurrava pra Érika me devolver aquilo e sentia meu coração gelar. – O que vocês ensaiaram?

- As mesmas músicas que tocamos lá. – ela inventou de pronto enquanto esticava uma das embalagens na minha direção apenas pra tirar de perto de mim no exato momento em que eu estava prestes a pegar.

- E o que vocês jogaram? – ouvi Sérgio mexendo nos potes na geladeira.

- Um pouco de cada coisa. – ela estendeu novamente o braço e tentei a sorte mais uma vez, sem sucesso.

- Vai ficar pra jantar, Gabriel?

- Muito obrigado pelo convite, mas eu já tenho que ir pra casa.

- Sábia decisão. – ouvimos a geladeira se fechando e Érika imediatamente voltou a esconder os preservativos. Sérgio voltou pra sala. – Vou tomar um banho, você pode fritar o bife pra mim?

- Posso sim. – disse com a cara mais inocente do mundo.


Sérgio se despediu de mim, subiu as escadas e assim que o ouvimos entrar no banheiro Érika voltou a falar.


- Quer dizer que você já vai então, Gabriel? – e sacou as camisinhas novamente. – Tem certeza? Não quer ficar e... Comer alguma coisa? – só a ironia na sua voz já me fez corar.

- Meu deus, Érika! Você não tem juízo? – perguntei sussurrando.


Ela riu e finalmente me devolveu as duas embalagens que mais do que imediatamente voltei a guardar dentro do bolso.


- Vem. – disse enquanto se colocava de pé. - Eu abro a porta pra você.


Peguei meu violão e a acompanhei até do lado de fora da casa onde conversamos por mais alguns minutos antes de nos despedirmos.


Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora