- Quer dizer que você resolveu deixar a guitarra na casa da Diana é? – Érika perguntou quando já estávamos no metro voltando pra casa. Tinha um largo e irônico sorriso estampado no rosto enquanto me encarava.
- É mais fácil que ficar carregando toda vez.
- Sei... – replicou. – Não tem nada a ver com o fato dela ser rosa e chamativa.
- Claro que tem isso também! – admiti. – Mas, além disso, não tenho nem cabo e nem amplificador pra ensaiar. Seria uma boa pegar o violão de volta também pra poder treinar.
- Treinar guitarra no violão? – Érika ergueu as sobrancelhas.
- É tudo a mesma coisa. – respondi erguendo os ombros. Depois do ensaio daquele dia eu estava mais confiante pra dizer aquilo mesmo sabendo que não era inteiramente verdade.
- Deixa só o Jean te ouvir. – e sorriu novamente. – Vamos até em casa e você pega.
- O que você achou de hoje?
- Acho que estamos melhorando.
- Eu to pensando em alugar o lugar para a festa.
- Você que vai pagar?
- É por um bom motivo.
- Cara... Massagem deve pagar bem. – falou pra si mesma e eu fiquei pensando "Pois é... Massagem... Claro...". – Espero que você lembre do meu aniversário também.
- Seu aniversário...?
- Você lembra não é?
- Claro...
- Gabriel! Você esqueceu quando é o meu aniversário? – Érika disse aumentando o tom de voz.
- Não, claro que não! – respondi aumentando também.
- Não acredito! Você esqueceu! – e ela aumentou ainda mais, soando completamente indignada. – Sério mesmo, Gabriel?
- Não esqueci! Eu disse que não esqueci!
- Então quando que é?! – sorriu como se estivesse brincando, mas eu sabia que em partes estava falando sério. Muito sério. E o problema é que eu realmente tinha esquecido.
- Se você não sabe, eu é que não vou te dizer! – aumentei mais minha voz, apelando para a "arte do migué".
A indignação de Érika atingiu o auge e ela arregalou os olhos e a boca numa completa cara de espanto.
- GA... BRI... ÉL! – falou pausadamente enquanto caminhava lentamente na minha direção, diminuindo o espaço entre nós como um predador. – Eu vou matar você! – o vagão todo estava olhando pra gente, uma senhora sentada em um dos bancos parecia estar rindo muito da coisa toda enquanto minha cara já estava pra lá de vermelha.
- Me matar?! – gaguejei um pouco. – Aposto que você também não lembra meu aniversário!
- Dezenove de Setembro! – respondeu de pronto.
- Você lembra! Como? Por que?! – meu argumento foi por terra.
- Me dá um bom motivo pra não te jogar nos trilhos do metro!
- Por que... Por que... – ouvi minha própria voz diminuindo cada vez mais.
- Por que...? – ela estava bem colada e me encarava com um sorriso maligno e olhos apertados.
- Tá! Desculpaaaaaaa!
- Não! Repita comigo! "Desculpa, óh linda, maravilhosa e amada Érika."
- Que?!
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Por trás do toque
Non-FictionGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...