Ok!
Tá na hora de adiantarmos um pouco a história e pularmos para começo de Junho ou perto disso.
Vocês não fazem ideia, mas eu tenho uma ótima memória.
Minha recordação mais antiga é da minha avó me dando banho numa daquelas bacias plásticas em cima da pia da cozinha. Eu havia conseguido a proeza de derrubar uma jarra inteira de suco de uva em cima de mim e estava ensopado de roxo.
Não devia ter nem três anos direito, mas ainda consigo ver e ouvir claramente em minha mente ela falando com minha tia para não esquentar demais a água na chaleira para não me queimar.
Junto de algumas anotações da época, provavelmente eu poderia relatar com detalhes tudo o que aconteceu nas semanas seguintes ao dia em que Érika me levou para comprar meu primeiro violão e de quebra conhecer seu pai.
O problema é que se continuar nesse ritmo vamos acabar com mais de cem capítulos e por mais que eu realmente esteja gostando da experiência de finalmente por pra fora tanta coisa que escondi do mundo por tanto tempo, o plano é transformar isso num livro.
Bem... Pelo menos eu espero que vire um livro...
Então vamos lá. Partindo de onde parei no capítulo anterior.
Acabei descobrindo que o pai da minha querida amiga se chamava Sérgio e compartilhava do mesmo senso de humor da filha.
Assim que Érika terminou aquelas fatídicas palavras, o homem me olhou ainda mais sério, fechando ainda mais a cara e me fazendo acreditar que meu fim havia chegado. Eu congelei no lugar, gaguejando alguma coisa aleatória sem fazer a menor ideia do que realmente estava dizendo.
E então, quando finalmente meu medo e constrangimento atingiram o limite, os dois caíram na gargalhada e quase rolaram de tanto rir.
Eles riram tanto e por tanto tempo que a vergonha pelo que Erika havia dito passou e no lugar veio vergonha por eu ser tão besta.
É "bullying" que chama ne? Naquela época essa palavra nem sequer existia, mas o conceito estava sendo muito bem aplicado ali ao vivo e a cores.
A parte boa é que, pelo menos, ganhei um belo desconto no violão.
Paguei noventa reais por ele feliz e contente.
Aproveitei também pra comprar algumas revistas com cifras que me ajudariam a aprender a tocar.
Então quando voltei pra casa, apesar de todo o constrangimento, Erika mais uma vez tinha conseguido alegrar meu dia e me fazer ficar feliz por tê-la como minha amiga.
Graças a essa aquisição acabei descobrindo um aspecto da minha personalidade que até então eu apenas desconfiava.
Eu sou obstinado demais. Quase obsessivo, talvez.
Nas minhas horas livres lá estava eu com o violão e uma das revistas, treinando acordes até meus dedos formarem calos.
Erika ficou surpresa com a velocidade com que eu estava aprendendo.
Descobri que ela tocava contra baixo e de repente começamos a sonhar em formar uma banda.
Na escola as coisas também acabaram mudando um pouco.
Descobri através da própria Dani que ela realmente tinha ficado com o Tobias e meses depois namorado o Thiago. Em ambos os casos a coisa não acabou bem e ela terminou com ambos, fato que explicava a atitude babaca que eles tinham em relação a ela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Por trás do toque
No FicciónGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...