Para poder contar os próximos eventos eu preciso saltar mais duas semanas a frente. Durante esse período as coisas entraram numa certa monotonia onde eu não me sentia realmente presente em nada do que acontecia ao meu redor.
Fiz um esforço colossal para responder a carta de Bianca sem dizer nada do que realmente pensava ou sentia sobre nós. Havia essa emoção dentro de mim que não me deixava desistir totalmente, mas também tinha a realidade me estapeando toda vez que ia pegar ou guardar dinheiro na "caixa secreta" e via o envelope.
Ao escrever eu sabia que precisava dar a entender o quanto ela e tudo o que vivemos tinha sido importante pra mim ao mesmo tempo em que a apoiava em sua decisão.
Não foi fácil e no fim não sei dizer se atingi o objetivo.
Eu não era o único me esforçando.
Parecia que Dani não conseguia evitar mentir, mas ela acabava admitindo depois. Aos poucos comecei a reparar no seu jeito e a identificar quando algo era verdade e quando não.
O assunto do beijo foi totalmente deixado de lado e voltamos a conversar como bons amigos, como se nada tivesse acontecido, mas com um único detalhe.
- Você e a Natasha... – ela começou certa vez no intervalo enquanto eu comia um pacote de biscoitos.
- Que que tem?
- Vocês estão ficando? Namorando?
- Que?! - pra mim essa história já estava tão morta que não tinha como não me surpreender. – Não. Por quê?
- Nada não.
Olhei bem para Dani, com um biscoito na mão pronto para ser comido. Agora eu conseguia perceber melhor quando ela estava mentindo e aquele "nada não" não me passou um pingo de confiança.
- Você... Tá com ciúmes?
- Sim. – Já esse "sim" foi bem verdadeiro.
Eu só não fazia ideia de como reagir.
Natasha e eu realmente havíamos restabelecido nossos laços, mas não passávamos mais nem metade do tempo juntos quanto antes. Também era comum voltarmos conversando já que morávamos na mesma direção. Mas isso não acontecia todo santo dia.
Seria possível que eu estivesse passando alguma impressão que não condizia com os fatos?
Pensei em perguntar, mas acabei desistindo da ideia.
Estava cansado demais pra lidar com o pensamento alheio. E quanto a Dani, não via motivos para ela não acreditar em mim.
Em casa as coisas não estavam muito diferentes.
Quando meu pai aparecia sempre tinha discussão e logo Julia acabou se acostumando a sair comigo. Quando ficava sabendo de antemão até se arrumava.
Seu humor continuava instável e volta e meia tinha uma de suas explosões agressivas, mas poderia dizer que estavam menos frequentes e que no decorrer dessas duas semanas até consegui faze-la rir com uma piada idiota.
Já os ensaios foram colocados na espera.
A questão é que depois da festa da Bibi não tivemos mais onde tocar e por mais que fosse divertido nos reunirmos, também era cansativo.
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Por trás do toque
No FicciónGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...