A balada do piscadeiro

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- Ah não, mãe! Sério mesmo? – e primeira coisa que aconteceu ao voltar pra mesa foi ter de me explicar. – Eu não vou ser pai.

- Quem é essa garota, Gabriel? E por que ela disse pra sua irmã que faltam três meses?

- É, Gabriel, quem é essa garota? – Julia emendou rindo.

- É, Gabriel... Quem é essa garota...? – Bibi foi na onda, mas tive a impressão de que não estava apenas brincando. Seria realmente possível que estivesse com ciúmes?

- Não era de verdade, mãe! – me senti como um animal encurralado e olhei para meu pai como quem pede ajuda. Ele me encarou por míseros dois segundos e então desviou seu olhar para o pão com manteiga com sua melhor expressão facial de "não tenho nada a ver com isso". – Era a Érika. É uma amiga que é completamente doida! Ela falou de brincadeira!

- Brincadeira, Gabriel? – minha mãe insistiu ainda desconfiada. – Quem é que brinca com uma coisa dessas?

- Você não tá passando credibilidade com esse olho roxo, maninho. – Julia acrescentou com seu melhor tom de provocação e vi Bianca tomando sua xícara de achocolatado sem desviar seus olhos da direção dos meus. Com certeza ela estava me lendo por completo.

- Socorro... – sussurrei para mim mesmo abaixando a cabeça.

- Se você me aparecer aqui com um filho, Gabriel... – minha mãe falou naquele tom de aviso que toda mãe sabe fazer enquanto me apontava uma colher de chá.

- Meu deus, mãe! Não! Vira essa boca pra lá!

- Aposto que vai ser menina! – Julia de novo.


Engoli meu achocolatado virando a xícara e resolvi escapar dali o mais rápido possível.

Fui direto para o banho, me arrumei, peguei o violão no meu quarto e quando já estava prestes a sair meu pai bateu na porta e entrou.


- Vai sair, filhão? – ah não... Aquele tom não. O tom de voz que precede algo realmente vergonhoso.

- Vou lá encontrar a Érika. Ela pediu pra eu chegar as onze.

- Entendi.


Ele ficou em silêncio esperando na porta com as duas mãos nos bolsos.

Aguardei pacientemente por um sermão ou uma conversa entre pai e filho, mas como nenhuma das duas coisas veio resolvi seguir meu rumo.

Então, quando eu já estava prestes a passar por ele, o grande senhor Ronaldo me deu um soquinho no peito e disse.


- Toma aqui. – e piscou um olho.


De imediato eu não entendi nada, mas então ele abriu a mão e advinha?

Sim! Exatamente!

Preservativos!

Umas três camisinhas assim de pronto.


- Pra que isso?! – perguntei num misto de indignação, surpresa e vergonha.

- Sério? Não te ensinaram isso na escola? Quer que eu explique?

- Meu deus, não! – nunca respondi algo tão rápido na minha vida. – Não! Não! Definitivamente não.

- Então é melhor pegar antes que alguém veja. – e piscou de novo.

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora