Uma forma de escapar da realidade

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Vocês não fazem ideia do esforço que estou fazendo nesse momento pra ir até o fim.

Eu queria muito encerrar ali, naquele beijo e naquela declaração.

Dessa forma pelo menos aqui, nessas palavras, Bianca nunca teria realmente ido embora.

Para a história o tempo iria simplesmente parar e assim cada leitor teria a oportunidade de imaginar por conta própria o que aconteceu.

Mas o tempo não para...

Então Bianca me abraçou forte e nos beijamos uma ultima vez antes dela sair correndo para junto de dona Hideko, entrando na sala de embarque e se despedindo com um aceno.


- Você... E Bianca...? – ouvi Julia falar, mas não me virei e nem respondi. – Quando? Como?!

- Gabriel? – foi a vez da minha mãe. Uma simples pergunta, mas com um tom de voz que queria dizer "o que você andou aprontando?".


Eu não tinha forças e nem humor pra nada daquilo naquele momento, então apenas abaixei a cabeça.


- Vamos então? Eu ainda tenho que voltar ao trabalho. – meu pai encerrou a coisa toda e quando me chamaram de longe, fiz esforço pra começar a caminhar.


Foi nesse momento, de repente, que nada mais pareceu real.

Os sons, as cores, cada passo no chão...

Como se eu não fosse eu e o mundo ao redor uma grande mentira.

Essa sensação tomou a minha mente, como uma névoa espessa que se misturava aos meus pensamentos. E durante três dias tudo o que eu fiz foi ficar na cama, levantando apenas para ir ao banheiro e para comer quando não me davam a opção de não ir.


- Levanta dai! – minha mãe entrou no quarto. Estava irritada e essa foi a primeira coisa que disse. – Vai! Sai já dessa cama!

- Eu não quero. To com sono.

-Não perguntei. Anda!

- O que você quer?! – gritei, quando ela arrancou as cobertas de cima de mim.

- Olha bem como você fala comigo! Você pegou dinheiro da nossa reserva?

- Peguei... – bufei.

- Quanto você pegou?

- Duzentos...

- Não mente, Gabriel. Quanto foi que você pegou?

- DUZENTOS! – levantei da cama, peguei minha carteira, tirei de lá uma nota de cem e bati com ela com força sobre a escrivaninha. – Gastei cem com o táxi! Tá aqui o resto!

- Você só pegou duzentos...? – e me olhou desconfiada.

- Mãe!

- Então tá, Gabriel! – ela pegou a nota de cima da escrivaninha e enfiou no bolso. – Pois pode deixar que vou ficar esperando você pagar direitinho os outros cem que faltam.


Ela saiu antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, batendo a porta do quarto e pisando firme no chão.

Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora