Um toque de surpresa

22 3 7
                                    

O momento que eu tanto adiei está chegando e preciso de apenas mais alguns capítulos incluindo este para contar os próximos eventos.

Não sei dizer com precisão quanto tempo se passou depois daquela noite com Bianca e sendo bem sincero com vocês, é bem possível que parte da minha cronologia esteja bagunçada.

Nem tudo o que escrevi a mão naquela época tem data e eu nunca fui bom com diários.

Mas a verdade é que nada disso importa.

Por que no final das contas, contrariando a minha vontade, o tempo continuou passando e tudo o que pude fazer foi navegar pelos dias dando o meu melhor pela Bianca e por mim mesmo.

Eu estava fazendo o máximo para que nenhum item da lista ficasse pendente.

Então essa parte da história começa exatamente às quinze horas e disso eu tenho certeza absoluta.


- Três da tarde, em ponto. – falei assim que vi Erika entrar pela porta. – Que milagre. Você não se atrasou.

- Como assim? Eu nunca me atraso. – e mostrou sua melhor cara de mentirosa desalmada.

- Oi Erika. – Thiago parou o que estava fazendo e se aproximou, parando bem ao meu lado. – Há quanto tempo.


Ele claramente decidiu usar sua voz melódica. A mesma que usava no shopping quando dava em cima das garotas.

- Olha só, se não são seus amigos. – e vi um sorriso se formar no rosto de Erika. O mesmo tipo de sorriso que só podia significar encrenca. Ela saiu apontando para cada um deles conforme se aproximavam e fingiu se esforçar para lembrar seus nomes. - Péricles, Patrício, Percival e... Rafael?


- Bem, pelo menos de mim ela lembra. – Rafael falou, olhando para os outros com leve superioridade.

- Oooooi, Gabs. – Diana apareceu logo atrás de Erika dando um pulinho pra dentro do salão com toda sua empolgação e ouvi Thiago suspirar enquanto Tobias falava baixo perto do meu ouvido.

- Caralho, Gabriel. Vai se foder. Que mina gata!


O próximo a entrar foi o Cris. O novo integrante da banda que substituiu o Jean.

Vocês devem lembrar que tivemos um ensaio cancelado, não é?

Pois bem...

Vou resumir por que não é um evento lá tão importante a ponto de ser necessário explicar em detalhes.

Jean, que normalmente não costumava ser a pessoa mais adorável do mundo, decidiu botar pra fora toda a sua insatisfação.

Não apenas com a banda, mas com tudo. O que incluía a Diana, a Erika, eu, o universo, a vida e tudo mais.

Então, depois de lavar a alma, rolou uma discussão... Que evoluiu pra uma briga... Que evoluiu para ele saindo da banda e a coisa toda acabou comigo descobrindo que pedi desculpas a toa! Eu não tinha feito nada e a Erika estava nervosa era com ele quando ligou cancelando!


- E aí? Quem vai ajudar a descarregar? – Cris falou. Ele não era nem de longe tão bom baterista quando o Jean, mas era dez vezes mais gente boa e parecia sempre disposto.

- Oi gente! – Natasha falou assim que saiu de um dos banheiros. – Acho que por aqui tá tudo certo. Tem papel higiênico, sabonete e os dois estão limpos.


A essa altura você já deve saber o que estava rolando...

Descarregamos os instrumentos, montamos no palco improvisado, afinamos e partimos pra arrumar as outras coisas.

Os amigos e amigas da Julia e da Bianca foram chegando trazendo decorações que fizeram ou que conseguiram de alguma forma. Alguns também trouxeram presentes, comida e bebida que organizamos sobre uma mesa comprida que infelizmente ficou sem toalha, mas que foi rodeada com uma fração da enorme quantidade de balões que enchemos com o esforço de nossos pulmões. Eram tantos que além de enormes cachos pendurados onde quer que desse pra pendurar, havia também um oceano deles espalhados pelo chão.

Mais e mais pessoas foram chegando, a grande maioria eu nunca tinha visto na minha vida e estava me perguntando mentalmente se todo mundo ali realmente era convidado quando Erika se sentou ao meu lado.


- Quando é meu aniversário, Gabriel? – perguntou como quem não quer nada.

- Seu aniversário? – me fiz de desentendido e percebi seus olhos se estreitando de um jeito maligno.

- Ah é...?! – não precisou mais que isso para que eu me sentisse ameaçado.

- Não! Pera! É brincadeira! QUINZE DE FEVEREIRO! QUINZE DE FEVEREIRO!

- Oh! Você lembra! – e fingiu uma cara fofa apertando minhas bochechas. – Que lindinho você, Gabriel!

- Claro! Nunca que eu esque... – mas minha voz morreu no momento em que vi quem atravessava a porta e entrava no salão.


Se eu estava surpreso, não era a toa.

Danielle tinha acabado de chegar e logo me encontrou sentado na beira do palco junto da Erika.

Ela sorriu e acenou.

Não. Eu não a havia convidado. E o motivo era que ainda não sabia o que fazer ou como lidar com suas mentiras.

Talvez houvesse uma boa explicação, algo que fizesse sentido, mas isso era algo que eu tinha decidido deixar para lidar somente quando as aulas voltassem.

Não fazia ideia de como ela havia descoberto e o que estava fazendo ali.

Dani estava caminhando em nossa direção quando alguém entrou gritando.


- Ela tá chegando!


Todos correram para suas posições.

A minha era exatamente ali, em cima do palco junto da Erika, Diana e Cris.

Então as luzes se apagaram, as vozes viraram cochichos, depois silêncio e então...


- SURPRESAAAAAAAA!


Por trás do toqueOnde histórias criam vida. Descubra agora