A garçonete já estava servindo o lanche sobre a bandeja quando Érika simplesmente surgiu do meu lado:
- Moça, coloca pra viagem, por favor? – disse enquanto pegava uma batata e enfiava na boca.
- Pra viagem? – estranhei.
Erika apenas me olhou pelo canto do olho e assim que a garçonete terminou de guardar tudo, pegou o saco de papel com uma das mãos, me tomou pelo braço com a outra e saiu puxando.
- Pega o refri! – falou animada e com minha mão livre agarrei o copo de cima do balcão pouco antes de não conseguir mais alcançar.
Ainda tive tempo de olhar na direção da mesa em que estávamos sentados e assim que meus amigos viram que estávamos indo embora percebi a bagunça recomeçando.
Imaginei o tipo de besteiras que deviam estar falando naquele momento e fiquei muito feliz por não conseguir ouvir.
Assim que chegamos à escada rolante Érika me soltou e meteu a mão dentro do saco para se servir de mais batata frita.
- Céus! – suspirou de boca cheia. – Eu estava verde de fome.
- Tô vendo. – repliquei enquanto analisava a forma como comia.
- Hey! Não me julgue. – pegou o sanduíche de dentro do saco. – Abre pra mim!
Lhe entreguei o refrigerante pra liberar minhas mãos e obedeci, desembrulhando o lanche do seu papel. Ela deu um bom gole e depois destrocou comigo.
Deu algumas mordidas em silêncio enquanto continuávamos caminhando lado a lado pelos corredores cheios de gente.
- Seus amigos... – falou entre as mordidas. – Prefere voltar pra junto deles?
- Nah. – respondi sinceramente. Eu estava feliz por conseguir escapar da Natasha, do Jonas e daquele interrogatório sobre minhas faltas na escola. – To de boa aqui com você.
Érika sorriu e depois seus lábios se transformaram num bico.
- Sério? – perguntei, sabendo o que ela queria.
- Vai logo!
Estiquei o copo de refrigerante colocando o canudo em sua boca.
- Ok... E o que faremos agora?
- Você gosta de vídeo game? – Érika perguntou erguendo as sobrancelhas. É claro que ela sabia que eu gostava.
Abandonamos o shopping e seguimos para a Praça Silvio Romero, um lugar que eu nunca havia visitado até então.
Na real eu quase não ia pra nenhum outro lugar que não fosse o shopping.
Dali ela me levou para um fliperama que fica a cerca de duas ou três quadras a partir da praça e assim que entrei fiquei maravilhado com a quantidade de jogos! Tinha de tudo, desde clássicos da Nintendo e da Sega até coisas novas que eu nunca havia jogado na minha vida.
Primeiro eu dei uma olhada em tudo e só então, metendo a mão na carteira, fui até o balcão e comprei cinquenta reais de fichas.
Essa foi a primeira vez que gastei tanto dinheiro sem um pingo de arrependimento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Por trás do toque
NonfiksiGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...