Eu queria dizer que assim que comecei a caminhar tudo ficou mais fácil.
Que me senti melhor por finamente ter colocado tudo pra fora.
Mais leve por ter me declarado, mesmo sabendo que não ficaríamos juntos.
Que estava orgulhoso da minha própria coragem...
Eu adoraria dizer isso, mas eu estaria mentindo.
Eu sabia que não ia ser fácil.
Caminhava sentindo como se meu mundo inteiro tivesse desmoronado sobre mim.
Minha cabeça latejava com o esforço que fazia para não chorar e meu peito doía como se fosse explodir.
Por dentro eu era mais raiva que tristeza e me odiava como nunca havia me odiado antes.
Odiava o mundo todo.
Uma parte de mim estava profundamente arrependida. Queria voltar atrás. Voltar no tempo e desfazer minhas próprias palavras.
Mas o que estava feito, estava feito.
Entrei em casa disfarçando o melhor possível a minha cara.
Peguei minha toalha e sem conversar com ninguém segui direto para o chuveiro.
Eu estava rígido até os ossos, como se todos meus músculos se contraíssem fazendo um verdadeiro esforço pra me manter em pé, me manter vivo, lutando...
Então a água quente caiu sobre mim e foi como se eu derretesse.
Escorreguei com minhas costas contra a parede, descendo até me encolher em posição fetal sentado no chão do box.
Não sei quanto tempo se passou até ter forças pra novamente me levantar.
- Acabou. – eu disse pra mim em voz alta. Eu precisava me escutar. – Acabou, Gabriel.
E repeti aquilo para mim mesmo várias e várias vezes em voz alta e em pensamento.
Eu repeti a cada vez que me arrependi, a cada lembrança, cada vez que pensava nela e a cada vez que desejava morrer.
Eu simplesmente repetia: "Acabou".
Repeti até virar um mantra.
Repeti durante aquela noite, rolando na cama, até finalmente conseguir dormir.
Repeti até começar a acreditar.
Mas foi só na manhã seguinte que consegui me sentir um pouco melhor.
- Ga-bri-eeeeel! – ouvi Julia gritando da porta do quarto e me revirei entre minhas cobertas. Sua voz estava tão distante que mais parecia um sonho. – Acorda logo!
Ouvi passos, meus olhos ainda fechados, mas senti a luz no meu rosto.
- GABRIEL! – o som da voz estava mais alta. Parecia estar do meu lado – Desisto! Eu vou pegar um balde d'água!
- Não, July! Espera! – outra voz, mais suave e familiar enquanto passos se afastavam. – Aí meu deus... Gabriel...
Senti o colchão se mexer do meu lado e então um toque suave sobre meu peito.
Abri meus olhos devagar, fazendo esforço para enfrentar o sono e lutando contra o brilho da luz que entrava pela janela.
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Por trás do toque
No FicciónGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...