Oitenta reais! Meu primeiro pagamento!
E posso confirmar que é verdade o que dizem sobre o prazer de ganhar o próprio dinheiro.
Eu lembro que me senti muito bem quando dona Fátima abriu a bolsa, tirou de lá uma nota de cinquenta, três notas de dez e colocou tudo na minha mão.
Estava sorrindo de orelha a orelha quando guardei tudo na minha carteira.
Por um momento foi como quando eu era criança, me davam algumas moedas e eu saia correndo dizendo que estava rico.
Agradeci genuinamente minha primeira cliente e ela se despediu, novamente com dois beijinhos. A empregada que eu definitivamente não lembrava o nome me acompanhou até a saída.
Percebi nesse momento que o elevador social já estava no andar e comecei a me mover naquela direção, mas fui interrompido.
- Tem que ser esse elevador aqui. – ela falou sem dar maiores explicações. Então parei imediatamente onde estava e continuei a esperar.
A princípio eu não entendi por que esperar um elevador quando o outro já estava no andar.
Foi só quando cheguei ao térreo que minha ficha caiu.
"Rico?" – pensei comigo mesmo colocando a mão sobre a carteira no meu bolso, me lembrando de como havia me sentido ainda momentos atrás.
Eu não fazia a menor ideia do que realmente era ser rico e fiquei até com um pouco de vergonha de mim mesmo.
Todos os moradores daquele prédio, talvez a grande maioria dos moradores daquele bairro, a própria dona Fátima... Essas pessoas sim eram ricas.
Eu, por outro lado, não era nem um pouco diferente da empregada que me acompanhou. E pessoas como nós não usavam o elevador social. Não, eu não estava ali para visitar ninguém, não tinha nenhum semelhante meu naquele lugar, nenhum amigo, conhecido ou parente. Estava ali prestando um serviço para alguém que realmente tinha dinheiro. Alguém que realmente era rico.
Por mais que hoje em dia eu perceba que tudo isso não passa de uma grande besteira, na época eu tinha dezesseis anos e essa diferença de classe social realmente me intimidava muito.
Mas bastou eu chegar à estação de trem que me senti muito melhor.
Infinitas vezes melhor.
Sentei num dos bancos perto da janela e segui de volta pra casa pensando em tudo o que havia acontecido até aquele momento enquanto o veículo se movia sobre os trilhos.
Depois de cruzar São Paulo em direção a um lugar que nunca havia visitado antes, acabei tendo minha estreia profissional. Minha cliente era rica e eu nunca havia conhecido ninguém realmente rico até então, quanto mais visitado sua casa.
E não só isso! Eu tinha acabado de ser pago para massagear o fabuloso corpo seminu dessa mesma cliente.
Sorri sozinho, me sentindo muito satisfeito comigo mesmo.
Do meu ponto de vista a coisa toda não tinha sido nada mal e por isso acabei lembrando o que a Natasha havia dito:
"- Trabalhe com o que ama para não ter que trabalhar um dia sequer na vida."
Por consequência me lembrei da própria Natasha e fui do alto da montanha ao fundo do poço em milésimos de segundos.
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Por trás do toque
NonfiksiGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...