Tanto meu corpo quanto meus lábios permaneceram imóveis e vi no olhar de Dani o quanto isso a surpreendeu. Bem, ela não era a única.
- O que foi isso? – perguntei assim que ela se afastou.
- Eu... Nós...
- O que?
Por um momento achei que ela fosse pegar suas coisas e ir embora, mas Dani apenas se sentou na carteira na fileira ao lado da minha e nos encaramos em silêncio por alguns segundos.
- Por que você me beijou?
- Não é óbvio?
- Não, Dani. Pra mim não tem nada de óbvio.
- Eu...
- Espera. – e me inclinei pra frente, falando um pouco mais baixo enquanto e com meus olhos fixos nos seus. – Semanas atrás você disse que eu só me fazia de bonzinho pra te comer. Que porra foi essa agora, Dani?
- Não fica bravo!
- Eu não to bravo! – mas eu tava.
Na real, mais uma vez eu estava irritado.
E isso era algo que vinha acontecendo com uma frequência maior do que eu gostaria.
Eu não entendia por que e sentia que a coisa toda estava saindo cada vez mais do meu controle.
A parte boa é que pelo menos dessa vez eu não estava gritando.
- Eu só queria saber por que você mentiu pra mim...
E novamente o silêncio.
O rosto de Dani se tornou sério e triste, com os lábios contraídos como se tentasse conter as palavras dentro da própria boca.
E eu fiquei ali, observando quieto, aguardando por uma resposta que mesmo depois de um longo momento simplesmente não veio.
- Quer saber...? Que se dane. – resmunguei comigo mesmo, cansado da coisa toda. Peguei meu material e estava prestes a levantar quando ela me segurou pela mão.
- Espera...
- Esperar o que?
Mais uma vez, silêncio.
Minha paciência se esgotou e comecei a caminhar em direção a porta.
- EU MENTI! – ela disse alto, me fazendo parar e olhar em sua direção. – Eu menti! Eu menti sim!
- Por que, Dani?
- Por quê?! – havia raiva em sua voz e seus olhos estavam vermelhos, mas sem lágrimas.— Por quê?! Você quer saber por quê?!
Ela mesma se levantou.
O rosto vermelho e os músculos tensos enquanto falava.
- Você acha que eu gosto de saber que nem meus pais me querem, Gabriel? Você acha que eu gosto de contar isso pras pessoas? Pra esse bando de gente que já me trata como se eu fosse algo podre? – respirou fundo e então continuou com as primeiras lágrimas começando a aparecer. – Eu menti e eu minto! O tempo todo! Por que minha vida é um inferno e eu não sei o que mais posso fazer a não ser isso...
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Por trás do toque
No FicciónGabriel é um garoto tímido de dezesseis anos que empurra a vida com a barriga evitando pensar sobre o futuro. Tudo estaria ótimo se não fosse por seus pais decidindo que já é hora dele começar a trabalhar e assim, influenciado por sua melhor amiga N...